quarta-feira, 26 de agosto de 2009

KALAKSHETRA, UMA ESCOLA DE DANÇA

Em Madras, sul da Índia, entramos em contato com a famosa escola de dança, Kalakshetra.

A dança na Índia expressa simbolicamente o desejo da alma individual de alcançar a Unidade com o infinito, ou a Alma do Universo. Através da música e da dança esse objetivo é alcançado e o estado de Ananda, ou Bem-aventurança, vivenciado pelo dançarino ou o músico, é transmitido à platéia. Os yogues se tornam Um com o universo através da meditação. Os músicos e dançarinos também realizam essa união, conjugando o movimento do corpo com a vibração do som.

Antigamente os espetáculos de dança não se realizavam em teatro, mas nos templos, porque a dança era a mais bela forma de reverência aos deuses.

Rukmini Devi, criando a Kalakhetra, buscou reviver o espírito dos antigos rituais onde as cenas do Mahabharata eram interpretadas em forma de dança e música no interior dos templos.

O Kalakhetra foi criado para expandir essa energia e todo ambiente dessa famosa escola de dança convidava o visitante a penetrar no universo mágico da arte. O impacto dos cânticos matinais debaixo da Bannyam tree, com a presença iluminada de Shankar Menon, já nos dava o primeiro toque. Shankar Menon, por muitos anos, acompanhou Rukmini Devi, dando ao Kalakhetra a orientação espiritual necessária à compreensão da síntese Arte-Yoga.

Moças com sáris coloridos, tranças nos cabelos e rapazes vestidos de dhotis brancos cantavam juntos em homenagem a todos os mestres e todas as religiões.

Kalakhetra significa lugar sagrado de arte, e a reverência pelo sagrado é sempre lembrada pelos professores.

Nas diversas cabanas cobertas de sapé com chão de cimento, os jovens iniciavam-se nas artes da dança e da música.

“Deixem do lado de fora os sapatos e com eles todas as suas tensões”, advertia o professor aos alunos.

Enquanto percorríamos as alamedas do Kalakhetra escutávamos batidas de percussão dentro de uma cabana de palha. Dez alunos buscavam interpretar os personagens mitológicos. O corpo teria de se afinar como um instrumento de música e responder aos sons com precisão e disciplina. Noutra cabana, um velho professor ensinava flauta para um pequeno grupo de jovens. Assentados à moda indiana, em cima de esteiras, eles escutavam atentamente os ensinamentos do músico.
A pessoa idosa na Índia é reverenciada como alguém que já encontrou a sabedoria.

O Kalakhetra foi criado para atender pessoas, desde o jardim de infância até a mais avançada idade. Crianças, adolescentes, jovens e velhos convivem no mesmo espaço e são instruídos, ou dão instruções, de acordo com a idade.

Há o momento de estudar, de seguir a rígida disciplina do músico e do dançarino; há o momento de interpretar, participar das coreografias, viajar, correr o mundo e se tornar um profissional da dança. De acordo com a idade, aquele que foi dançarino torna-se professor ou acompanha os grupos para o exterior. Mais tarde, de acordo com suas tendências naturais, ele ainda continua atuante e prestando serviços como relações públicas, recebendo os visitantes, dando entrevistas e informações sobre a história da escola. Rukmini Devi não descuidou de nada na criação de sua escola de arte e hoje, após sua morte ocorrida em 1986, sua obra continua viva na memória daqueles que tiveram a possibilidade de conhecê-la pessoalmente. O teatro criado por ela tem forma de templo e lá dentro o espectador participa dos eventos e penetra na verdadeira essência da arte, que é a de libertar a mente das tensões e conflitos e penetrar no recinto do sagrado.

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