terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

INCONFIDÊNCIA ECOLÓGICA

Por ocasião da inauguração do “Caminho das artes” no Jardim Canadá, compareceram artistas e autoridades. Vieram dois ônibus de Belo Horizonte e muita gente entusiasmada com a iniciativa. Percorremos várias escolas de arte. Em cada lugar, o povo se aglomerava para ver o que estava acontecendo e as professoras explicavam para os visitantes os trabalhos ali realizados.
Como convidada especial, eu teria de me levantar e contar o histórico da minha chegada ao Retiro das Pedras, há 35 anos atrás, quando o Jardim Canadá era um povoado de barracos desabitados. O bairro cresceu, abriram-se restaurantes e casas de festas e agora sob a aprovação dos políticos, um circuito de artes promete se estender até Inhotim, passando por residências de artistas, galerias de arte, escolas de dança, artesanato e circo.
Em cada escola, fizemos uma parada e um discurso. Na escola de circo Armatrux, houve um discurso do secretário de cultura. “Nós, políticos, temos o cuidado de escutar os artistas. Nossa missão é escutar e executar as boas idéias que os artistas nos trazem.”
Eu estava distraída, vendo dois malabaristas andando numa corda; só consegui escutar o final do discurso, mas, assim mesmo, ganhei um microfone para responder e tive de responder no susto, numa espécie de jogral improvisado.
“Realmente”, respondi, “você tem razão. Esta região foi palco no passado da Inconfidência Mineira e teve a sua ação política cercada de artistas, poetas, escultores, arquitetos.”
“A minha sugestão é de fazermos uma nova inconfidência, desta vez uma Inconfidência ecológica. Os artistas poderiam se unir para defesa da natureza, defesa dos rios, das matas, das espécies nativas.”
A natureza está-se esgotando e no futuro nossos netos e bisnetos não terão água para beber. Cabe aos artistas sugerir, promover instalações, musicas, poesias. Há 30 anos o artista Manfredo de Souzaneto lançou um adesivo “Olhe bem as montanhas”; Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema “Triste Horizonte”. Foram advertências incisivas, justamente porque nasceram no coração de artistas.

* Fotos: Euler Andrés e Maurício Andrés

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