sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ARTE NAS MONTANHAS

Alguns artistas, seguindo a necessidade da época de volta à natureza, estão se afastando das cidades para se fixar em lugares mais silenciosos ainda não poluídos pela agitação dos grandes centros. Em Minas, a subida para as montanhas começou em meados do século XX, quando a cidade de Belo Horizonte aumentou com a explosão imobiliária. Vários condomínios foram criados oferecendo aos moradores a beleza natural e o ar puro das montanhas.

Ronei Filgueiras, engenheiro e artista, foi um dos primeiros moradores do Retiro das Pedras. Ali, Ronei não somente construiu sua residência como também um teatro particular ao lado de sua casa em forma hiperbólica com acústica perfeita para concertos de câmera. O teatro Domus Áurea, inaugurado em 1981, foi idealizado para ser um templo de música erudita. Lugar sagrado de arte, o teatro apresentou em sua estréia Nelson Freire, o mais famoso pianista do Brasil. Ali se apresentaram músicos famosos, tais como Frederic Meinders, Eduardo Hazan, Fany Solter, Arthur Andrés e Regina Amaral, Bettine Clemen com o maestro Magnani,entre outros.

Sábado, 1º de agosto de 2010, assisti a um concerto de piano de Valéria Zanini, pianista brasileira radicada na Dinamarca e com grandes apresentações nos palcos europeus. Valéria é conhecida na Dinamarca pelo pioneirismo na introdução da música brasileira para platéias daquele país com inúmeras gravações na rádio dinamarquesa e apresentações em TVs. Seu concerto no teatro Domus Áurea foi oferecido em beneficio das obras sociais do capelão da igreja do Retiro das Pedras, padre Natanael. Cada pessoa contribuía com um pacote de alimento não perecível para ser enviado ao Vale do Jequitinhonha. Parabens à jovem pianista e ao casal Ronei e Zezé pela oportunidade de, generosamente, contribuir para a elevação do nível cultural desta região.

No dia seguinte, ao ar livre, nas quadras do condomínio, foi apresentado um outro programa musical, desta vez seguindo o gosto popular da bossa nova e do rock. À sombra das árvores, junto à feira de artesanato, cantores jovens se apresentaram, no domingo pela manhã, proporcionando à comunidade uma nova forma de arte. Houve participação e interatividade do público que ali estava e cantarolava também as canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Entre o erudito e o popular a música continua sendo a forma direta de trazer harmonia para a nossa sociedade.

Outros condomínios também se abrem para as artes, buscando elevar o nível cultural da região de Nova Lima e Brumadinho. No sábado, dia sete de agosto, fui convidada para assistir a um concerto da orquestra Filarmônica de Belo Horizonte que estava se apresentando no condomínio Morro do Chapéu, a convite da diretoria. A orquestra apresentou um repertório de música erudita inspirada no folclore de vários países da Europa Central. A programação incluía masurkas e polkas e também criações populares da América Latina, tais como o tango e o batuque brasileiro interpretados de forma erudita. Para terminar a apresentação o concerto Bolero de Ravel foi acompanhado com entusiasmo pelo público. Adultos, crianças e idosos participaram do evento sentados ao ar livre, à luz das estrelas, diante de uma concha acústica armada no gramado.

Voltamos ao Morro do Chapéu no domingo pela manhã para assistir à programação da terceira feira de livros do condomínio. Ali, as artes plásticas e a música se uniram à literatura. Durante três dias as pessoas se encontravam, trocavam idéias, escutavam poetas recitando e escritores fazendo depoimentos. A programação incluía também uma palestra do economista e filósofo Eduardo Gianetti com a mediação de Luis Aníbal Fernandes.

Em frente a um stand, Jorge dos Anjos, recentemente chegado de uma exposição na Holanda, apresentava suas esculturas ao lado de estamparias de Fernando Lucchesi e trabalhos de Fernando Pacheco, George Hardy e Fernando Veloso.

Os condomínios estão dando um bom exemplo de realizações que elevam o nível cultural da comunidade. Nessa região sul, próximo à Belo Horizonte, está se formando o caminho das artes com residência de jovens artistas (JACA), galerias de arte, escolas de circo e dança, apontando um caminho em direção à Inhotim, o maior centro de arte contemporânea das Américas.

*Fotos de Marília Andrés e Luciano Luppi

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