sexta-feira, 6 de agosto de 2010

AS FLORES DE BELO HORIZONTE

Belo Horizonte era cidade jardim. Na Avenida Afonso Pena uma fileira de árvores verdes possibilitava ao transeunte um descanso saudável nos dias de calor. Os bondes subiam e desciam conduzindo passageiros e parando nos abrigos. O abrigo mais próximo à minha casa era o abrigo Ceará. Descíamos do bonde naquela parada e íamos subindo até a nossa casa, correndo debaixo das árvores. As minhas memórias de BH estão ligadas às imagens dos bondes, das flores e das árvores. Até hoje não sei porque retiraram os bondes de circulação e decapitaram as árvores. Em todos os países do primeiro mundo os bondes continuam circulando e trazendo grandes benefícios para a população sem os efeitos colaterais da gasolina. Acho que a retirada dos bondes e das árvores tem muito a ver com a circulação dos carros.

Assisti ao primeiro sacrifício das árvores. Fiquei da janela registrando a cena, sentindo a tristeza de ver a cidade despojada, descontruída, famílias pobres carregando a lenha para o fogo. Conservo desenhos da época, como recordação do evento. Belo Horizonte perdia a característica de ser a cidade jardim, famosa pelo perfume dos jasmins e damas da noite. Aquelas árvores enormes copadas, adequadas ao efeito estufa, só restam como recordação da época na Avenida Bernardo Monteiro. Assim, ficamos por muito tempo, mergulhados no asfalto cinzento e na verticalização da cidade.

Muitos anos se passaram. Aos poucos, fui percebendo que Belo Horizonte estava tomando cores novamente e as flores renasciam nas alamedas e praças. Tomei a minha câmera digital, chamei um táxi e fui fotografar os ipês da praça da Liberdade que estavam em plena floração. Perguntei a quem me acompanhava: “O que você está achando de eu tomar um táxi só para fazer fotos na praça?”. Ela respondeu: “Isto e porque você está de bem com a vida!”

Agora, sentada no café do Palácio das Artes converso com uma arquiteta sobre a beleza dos ipês. Ela vai falando e eu escutando. “Você talvez não saiba, mas esses ipês tão floridos foram idealizados por seu filho Maurício, quando era secretário de meio ambiente. Na época, o projeto foi considerado visionário, mas hoje os resultados são visíveis.”

O plantio de árvores foi feito levando-se em conta as diferentes épocas de floração, para que a cidade pudesse estar sempre florida. A Praça da Liberdade é hoje um dos lugares mais aprazíveis da cidade e ali acontecem eventos criativos de dança e música, além de projetos na área de ecologia e tratamentos alternativos de saúde. Dentro de um stand, o jovem ambientalista mostra o seu trabalho realizado em Sete Lagoas. Outro stand demonstra massagens, acupuntura e terapias orientais.

Lembro-me da praça à noite, todos os domingos quando ali os jovens faziam footing, moças caminhando e os rapazes parados em grupos cortejando as suas eleitas. No tempo da minha mãe os pretendentes passavam de bonde e tiravam o chapéu em frente à casa da namorada que estava na janela, esperando o bonde passar.

Hoje, na Praça da Liberdade, na semana da dança, o povo dança em cima de um tablado, dança de salão, do samba ao bolero. É a dança a dois que mais cresce em Belo Horizonte. Para praticá-la basta gostar. A dança na rua faz parte também da programação da cidade de Buenos Aires, na Argentina. Ali o visitante pode admirar um tango bem dançado e também participar.

Hoje Belo Horizonte volta a ser a cidade jardim, os ipês vão florindo de forma sustentável, quando um acaba de florescer o outro começa. “Em setembro, teremos os ipês amarelos”, nos disse o motorista de táxi. Eles rodam a cidade e dão notícia de tudo, das flores, das festas, das danças. Hoje, é dia de festa na praça e para lá nos dirigimos com a nossa pequena câmera fotográfica.

* Fotos: Maria Helena Andrés

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