quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SUSTENTABILIDADE E ARTE



Nesta seqüência de temas ecológicos que pretendo postar algumas vezes, peço uma reflexão sobre o efeito estufa e suas conseqüências desastrosas para a vida no planeta.
Diariamente os jornais publicam com grande sensacionalismo as enchentes no Brasil, Indonésia, China, EUA  e outros países. Também escrevem sobre a lama vermelha atingindo o rio Danúbio por causa da lavagem da bauxita.
Lembro-me de Porto Trombetas, no Pará e de um navio parado no porto, carregando bauxita para outras terras. Onde seria feita a lavagem desse minério? Aqui no Brasil ou em outras terras? A bauxita serve para a fabricação do alumínio, atendendo às necessidades do consumo.
O consumo está nos conduzindo aceleradamente para a destruição. O apelo excessivo às coisas inúteis acumula o lixo e o lixo é um dos grandes problemas do mundo. Onde colocar o que sobra dessa ambição excessiva, desse desejo insano de ter coisas e mais coisas?
Navios estrangeiros estiveram recentemente em nossos mares, trazendo lixo para ser despejado e retornaram ao lugar de origem sob protestos. Cada um que cuide do seu lixo.
No meio do caos, idéias novas vão surgindo. Assisti recentemente a uma palestra do engenheiro Carlos Faria sobre o uso da energia solar como alternativa para o século 21. O conferencista mostrou o que está sendo feito no mundo e destacou a iniciativa da ilha de Chipre, onde essa energia é colocada em 90% das construções. Admirei o fato de que na Suécia a energia solar é armazenada para uso coletivo, afim de ser usada no momento adequado atendendo à população.
No Japão, uma esteira rolante de 232 Km em Yokohama é movida a energia solar e já poupou a emissão de 27 toneladas de carbono.
Também naquele país, depois de ampla campanha incentivando a reutilização de materiais, foi elaborado um eficiente sistema de reciclagem, servindo de base para a criação da “cidade ecológica”. Hoje, seis fábricas de material reciclado funcionam no local, processando plástico, produtos eletrônicos usados, papel e garrafas PET. “São empresas que têm como matéria prima resíduos de outras empresas”.
“Além de beneficiar o meio ambiente, a cidade ecológica gera receita ao município, pois é o governo local quem reconhece a matéria prima e a vende nas fábricas”. Estas são palavras de Humberto Resende, jornalista recentemente convidado a visitar o Japão.
Estas iniciativas em torno da sustentabilidade são experiências que podem servir de referência para o Brasil.
O Japão é um país muito pequeno, mas tem uma sabedoria que pertence a um passado onde o respeito à natureza é prioritário.
Visitei o Japão durante a Expo-70 e pude admirar no meio do avanço tecnológico, também o amor à natureza, demonstrado através dos jardins de meditação.
“A filosofia Zen ordenou sugerir e não demonstrar. O homem desaparece dentro da paisagem. A natureza que o antecipou continua, em seu silêncio, a superá-lo. O homem vive, cresce e morre. A montanha resiste, afronta tempestades, ventanias e às vezes terremotos, mas só uma energia muito grande consegue derrubá-la.
Enquanto o mundo ocidental preocupava-se com o homem, e o renascimento rendia-lhe verdadeiro culto como centro do universo, o oriente, silenciosamente engrandecia a natureza”.
Este texto, retirado de meu livro “Encontro com mestres no Oriente” serve no momento como um instante de reflexão.
Não seria esta colocação do homem como centro do mundo, como dono das montanhas, dos rios, dos mares, o grande equívoco da nossa civilização ocidental?
Colocar o homem como dono e não como ponto pequenino na paisagem, gera uma série de erros irremediáveis.   Os rolos de 15 metros da paisagem japonesa, expostos no museu de Tóquio, ao inserir o ser humano com o seu real tamanho diante das montanhas e dos mares, conferem às gerações futuras o caminho da sustentabilidade e nos ensinam mais do que as palavras.

“Também a cerimônia do chá, ao agradecer a cada um que participou com seu trabalho para produzi-la – os agricultores, os ceramistas, quem recolheu a água – e agradecer também ao barro, ao vegetal, ao liquido – demonstra o reconhecimento a toda a cadeia produtiva que possibilitou que a cerimônia se realize. É um exemplo de consciência eco-tecnológica. E o Japão também evitou uma crise ecológica ao ter decidido, há muitas décadas, a proteger suas florestas, os Alpes japoneses.” (Maurício Andrés)

* Fotos de Maurício Andrés

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