terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CANTO GREGORIANO E HINOS VÉDICOS

Podemos ver, nas diversas religiões, a busca da harmonia do ser humano por meio da harmonia de sons. Na Bíblia, David conseguiu amenizar com uma harpa a cólera do rei Saul. Ao som de uma lira, Pitágoras transmutava as vibrações de seus discípulos. Na mitologia grega, os primeiros grandes músicos foram os deuses. Apolo, deus da beleza e da arte, é conhecido como o músico que, ao tocar sua lira, encantava os deuses do Olimpo. Pã inventou a flauta de cana e, ao som de sua música se irmanava com os pássaros e com toda a natureza. Entre os mortais descendentes dos deuses gregos destacava-se Orfeu, que, sob a magia de sua música, fazia mover os rochedos, os montes, o curso dos rios.


Em todas as religiões, o canto sempre foi o meio mais simples de se entrar no estado de harmonia e paz. Os cânticos devocionais unificam as pessoas e, por seu intermédio, a espiritualidade chega mais direto aos corações do que por meio do discurso falado. Existe uma afinidade entre o cântico dos Vedas, na Índia, e o canto gregoriano na tradição cristã. Percebemos que ambos nos elevam para um plano mais sutil, rumo ao estado contemplativo.
O Canto gregoriano foi resgatado de manuscritos antigos pelo papa Gregorio Magno, que fez uma coletânea do que era cantado nas celebrações. Pretendia unir os devotos por meio do canto monódico ou uníssono.
No período das perseguições religiosas, os cristãos se reuniam nas catacumbas e cantavam em louvor a Deus enquanto esperavam a sentença final. O canto, provocando o estado de religiosidade, ajudava-os a superar o medo da morte.
No Oriente, o cântico de mantras, harmonizando corpo-emoções-mente, é também considerado uma forma de meditação. A cultura milenar da Índia remonta à época dos Vedas, quando se realizavam rituais com a entoação de hinos e invocações diante da chama sagrada. A tradição hinduísta dá ao mantra, ou som místico, um significado profundo dentro de sua religião. Trata-se de um recurso para o Yogue atingir o som inaudível e não manifesto. Por meio do som ele busca a Realidade Última. De acordo com o Yoga, cada objeto tem um som natural, que pode ser captado, modificado e sintonizado com a música universal. Para os Sufis, “aquele que conhece o mistério do som sabe o mistério do universo.” Nós não conseguimos ouvir o som abstrato que nos circunda e envolve, porque estamos com a consciência centralizada em nós mesmos, em nossos problemas e na vida material. Mas, segundo eles, aquele que tiver a capacidade de sintonizar-se com esse som conhecerá o presente, o passado e o futuro.
A entoação desses cânticos tem caráter melódico e circular repetitivo, assim como o canto gregoriano; portanto, existe uma semelhança entre o canto gregoriano e os hinos védicos. A atmosfera mística que ambos proporcionam levou-me a pesquisar as origens comuns das duas manifestações devocionais.
“O canto gregoriano tem origens orientais. As reverendíssimas beneditinas da Abadia de Nossa Senhora das Graças, em Belo Horizonte, lembram que os monges sempre trabalhavam cantando orações nas lavouras, mas a base dessa melodia – introspecção, contemplação e monodia - veio das sinagogas judaicas e dos cultos hebraicos.” (Pe Nereu de Castro)

Esses grupos devocionais do passado inclinavam-se em atitude de reverência diante da majestade do Deus criador. Durante a entoação dos cânticos sagrados, criavam uma atmosfera de harmonia e unidade, impulsionados por uma energia interior. Essa mesma atmosfera pode ser sentida até hoje nos diversos templos e mosteiros de várias regiões do planeta. Não importa se entoamos um cântico em Sânscrito ou em Latim. A intensidade da busca dessa experiência depende da intenção e da nossa atitude de entrega durante a entoação dos sons sagrados. Esses sons podem nos conduzir além das estrelas, no espaço etéreo, onde não existe a dualidade dos conceitos mentais.

Nos cânticos de louvor, sentimos que o Divino pode manifestar-se no humano.

* Fotos de Marília Andrés e da internet

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