sexta-feira, 18 de março de 2011

CARNAVAL: ARTE CONTEMPORÂNEA À MARGEM DOS MUSEUS

Na década de 1960, Helio Oiticica, pioneiro da arte contemporânea no Brasil, era componente da Escola de Samba da  Mangueira.  Uma de suas mais famosas performances foi levar para o Museu de Arte Moderna do Rio,  durante a ditadura brasileira a escola de samba da Mangueira, alegando que aquilo era uma obra de arte tão importante quanto as que estavam dentro do museu. Naturalmente, a época não era apropriada para entender essa extensão da arte para a vida e, por causa disso, a Escola  de Samba foi retirada do Museu.

Maurício e Aparecida já desfilaram em escolas de samba: Salgueiro, Mangueira, Unidos da Tijuca. Ele nos deu o depoimento abaixo:
“Quando, há muitos anos atrás, desfilei pela primeira vez no sambódromo, fiquei impressionado com a organização pouco burocrática. A única informação que nos pediram antes era o tamanho dos nossos pés e de nossas roupas, para prepararem a sandália e a fantasia com que iríamos sambar. Nem o nome era necessário, bastava uma senha e nos disseram que,  entre os foliões  fantasiados, havia muitos que não podiam ser  identificados por razões policiais. Outra informação relevante era  o centavo no final do valor pago pela fantasia. Cada folião pagava um valor diferente e a diferença estava no centavo. Maurício pagou R$250,01 e Aparecida R$250,02 por exemplo e assim por diante.  A concentração era um momento importante, para se conhecer os companheiros de ala e aprender a cantar bem o samba da escola e depois o desfile passava durante 30 a 40 minutos pelo sambódromo. Era tudo muito organizado e disciplinado, não podendo haver atrasos. Existiam monitores que tangiam as alas no andamento certo a fim de  evitar que houvesse buracos  entre os sambistas e foliões.
A tecnologia de organização da escola de samba  é uma referência que pode inspirar outras organizações a trabalharem coletivamente  e obterem, no prazo correto e sem maior complicação, os melhores e mais belos resultados. O resultado de conjunto ficou muito bonito, aquilo que Darcy Ribeiro chamava de “o maior espetáculo da terra.”

Em 2011, Alice, filha de Mauricio e Aparecida, desfilou na São Clemente, com dois amigos alemães que queriam ter a experiência do desfile junto com os brasileiros, revelando como as escolas de samba estão presentes em varias gerações. De minha casa, no Retiro das Pedras pude acompanhar o desfile, que foi filmado com uma câmera de celular diretamente da televisão.  Ela dá o seguinte depoimento:

”Meus amigos alemães, que já ouviram muito falar do carnaval brasileiro, fizeram questão de desfilar na Sapucaí. Assim, três meses antes do carnaval, decidimos sair na escola de samba São Clemente e contratamos a confecção das três fantasias – lindas, de pierrôs. Ficamos muito tocados com a alegria que as fantasias pareciam trazer com suas simples presenças: os alemães não paravam de sorrir, quiseram experimentá-las imediatamente e, ao sairmos de casa e entrarmos no primeiro ônibus em direção ao sambódromo, as pessoas nos paravam na rua, desejando sorte para a escola de samba, tiravam fotos. Tudo fazia parte de uma performance espontânea, desligada do trabalho de curadores. Sem dúvida era um processo de arte – bem que o Helio Oiticica tinha razão! Escola de samba é arte contemporânea!”


Marília participou de blocos carnavalescos no Rio em 2011 e nos deu o depoimento abaixo:
“No Rio de Janeiro os blocos carnavalescos emergem dos bairros congregando a população local: idosos, jovens, crianças e até bebês participam dessa celebração de alegria que transparece na alma do povo, resgatando as antigas marchinhas carnavalescas dos anos 1930/40 e as brincadeiras com confetes e serpentinas. O trio elétrico comanda os foliões, produzindo uma unidade sinergética entre as pessoas. Dança, música e brincadeiras proporcionam aos participantes a oportunidade de sentir de perto o que é o carnaval brasileiro.”

*Fotos de Marília Andrés, Maurício Andrés e Alice Andrés

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