quinta-feira, 26 de maio de 2011

VOZ E POESIA

Estamos vivendo uma época de retorno às nossas origens. Um retorno  muitas vezes de atitudes que nos remetem a valores da própria essência do ser humano e que apontam para uma abertura de consciência e  uma transformação da sociedade.
Sabemos que os antigos gregos eram também poetas e os antigos hindus eram também cantores. Poesia e música transmitiam em seu contexto a antiga sabedoria do mundo. No mundo contemporâneo esta transversalidade está sendo estudada por filósofos e pensadores da arte. O saber está sendo transmitido de geração em geração em forma de poesia e canto.

Nesta síntese das artes, onde a poesia encontra a filosofia e a música, existem grupos que vêm trabalhando há muito tempo neste caminho que espontaneamente liga arte, ciência, religião e filosofia.
São poemas, cânticos e vídeos apresentados de forma circular como os antigos grupos. A tônica é a busca da Unidade do Século XXI, que se sobrepõe à separatividade do Século XX.

Estamos divulgando como um exemplo desta volta às origens, o trabalho pioneiro dos poetas e cantores Luciano Luppi, Ivana Andrés e Evaldo Leoni, que apresentaram seu espetáculo interativo “Cartas Poéticas” no Teatro Don Silvério em Belo Horizonte.

Transcrevo abaixo algumas poesias deste espetáculo:

SOBRE OS FILHOS
(Kahlil Gibran)

Vossos filhos não são filhos vossos.
São os filhos e as filhas do desejo ardente da vida  por si mesma.
Eles vêm através de vós, e embora vivam convosco , não vos pertencem.
Podeis presentear-lhes com vosso amor, mas não com vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,
pois suas almas moram na mansão do amanhã,
que vós não podeis visitar, nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles,
mas não procureis fazê-los iguais a vós,
porque a vida não anda para trás ,
e nem permanece nos dias que já se passaram.
Sois como o arco do qual vossos filhos
são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na direção do infinito,
e vos estica com toda a sua força ,
para que suas flechas se projetem rápidas, para muito longe.
Para vossa alegria, deixai-vos curvar pela mão do Arqueiro,
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
ama também o arco que permanece estável.

HOUVE UM INSTANTE
(Antonio Roberto Soares)

Houve um instante
Em que todas as músicas do mundo
Marcaram encontro com o pôr do sol
Em que a brisa pegou carona com o arco-íris
E foi testemunhar a chegada dos pássaros da primavera
Houve silêncio
Um silêncio terno e quente
Silêncio de mar
De amanhecer
Um perfume lento de todas as flores da terra
E uma paz maciamente infinita

Houve um instante
Em que tudo isto aconteceu ao mesmo tempo
E no mesmo lugar
No meu coração
Perguntei a Deus o nome de tanta poesia
A resposta veio à noite
Com as estrelas
Amor
 *Fotos de Leandro Luppi




domingo, 15 de maio de 2011

UAKTI EM ROMA

O nosso conhecido grupo UAKTI, de Minas Gerais esteve recentemente fazendo uma apresentação na Embaixada do Brasil em Roma.

O grupo UAKTI em todas as suas apresentações fora do Brasil, tem sido o grande emissário da paz entre as nações do mundo.

Sua música, de inspiração indígena, atravessa as fronteiras levando uma mensagem de harmonia e integração planetária pelos diversos países por onde passa.

Assisti em 2001 no Guggenhein de Nova York a uma apresentação e workshop do grupo. Foi uma época conturbada na cidade de Nova York com a explosão das Torres Gêmeas. Havia um contraste entre a paz e a guerra. Diante de uma platéia ainda traumatizada com a queda das duas Torres, eles acenavam com uma proposta de paz e harmonia.

Agora, novamente estarão apresentando numa Europa conturbada pelo clima de guerra, as vibrações sonoras com propostas de paz entre os homens.

Brasileiro não quer a guerra, é a favor da paz. Nos sons sem palavras eles nos tocam o coração, emitindo vibrações da terra na percussão e do espaço na flauta. A flauta nos lembra a lenda do UAKTI, um índio brasileiro que encantava as mulheres da tribo. De acordo com o depoimento de Artur Andrés, UAKTI era um índio grande, que tinha o corpo aberto em buracos. Quando ele corria pela floresta o vento, passando pelos buracos do seu corpo, produzia sons lúgubres, soturnos que atraíam as mulheres da tribo. UAKTI as seduzia. Os índios da tribo, enciumados, caçaram e mataram UAKTI. No local onde ele foi enterrado, nasceram 3 palmeiras. Os índios passaram a utilizar a madeira dessas palmeiras para tecerem flautas que, segundo eles, quando tocadas, reproduziam os sons do UAKTI correndo pela floresta. Nos rituais indígenas, as mulheres tinham que ser retiradas para bem longe, pois se ouvissem esses sons, poderiam se tornar impuras.

Assim também na Índia, Krishna, o deus da música, encantava as gopis (camponesas) com sua flauta.

Os mitos levam semelhanças e significados formais. Atravessam tempo e espaço para lembrar ao ser humano a sua origem cósmica. O índio UAKTI no Brasil, mergulhado nas florestas, lembra o deus Krishna na Índia, encantando as camponesas. Transmutar energias é o significado de ambos. Comover os corações, reverter a violência é o que todos nós sentimos.

A música deste grupo de Minas Gerais é uma música que nos conduz a um espaço interno dentro de nós, onde não existe tumulto, violência ou divisões. Na multiplicidade de instrumentos feitos com a maior variedade de materiais, tubos de PVC, cabaças, tablas, tambores, tampas de panelas, etc, Marco Antônio Guimarães, idealizador do Grupo, criou inúmeras composições. Marco Antônio tirou música até das tempestades, e os sons que ele ouviu da água batendo no chão e escorrendo do telhado, motivaram a criação do CD Águas da Amazônia, que o Grupo mostrou no Guggenhein de Nova York em 2001. Atualmente os demais componentes do Grupo, Artur Andrés, Décio Ramos e Paulo Santos têm dado continuidade ao UAKTI, não somente nas apresentações, como também acrescentando novas composições.

Recentemente, numa apresentação no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, foi introduzido um gigantesco instrumento de sopro semelhante aos instrumentos dos monjes budistas, cujo som lembra o timbre grave e soturno do índio UAKTI.

A música tem esta possibilidade de unir as pessoas e a estes emissários da Unidade Planetária os nossos votos de maior sucesso.



*Fotos de Regina Amaral, Sylvio Coutinho e Jefferson Oliveira




quinta-feira, 5 de maio de 2011

ARTE E PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA

Os acontecimentos na escola do Realengo no Rio de Janeiro, que traumatizaram o mundo inteiro, precipitaram diversas ações voltadas para prevenir a violência.
Minha neta Alice, que coordena a área de controle de armas do Instituto Sou da Paz, deu o seguinte depoimento sobre uma campanha junto as crianças para conscientiza-las sobre a importância de prevenir a violência: “Foi interessante a experiência acontecida na zona sul da cidade de São Paulo, na região do M’Boi Mirim, em abril de 2011. Entre os dias 11 e 15, o Instituto Sou da Paz articulou a Semana do Desarmamento Infantil, junto com a Polícia Militar, a Guarda Civil e a Subprefeitura do M’Boi Mirim. Durante esses dias, as crianças da região receberam aulas sobre os perigos das armas e puderam trocar armas de brinquedo por revistas em quadrinhos. As crianças deram uma lição de cidadania. Além de entregar as arminhas, elas também entregaram filmes e jogos violentos. Muitas escolas que aderiram à iniciativa depois nem puderam oferecer os gibis em troca das arminhas entregues – mas não isso não foi um problema!”
Alice continua seu depoimento lembrando o  papel da criatividade artística como forma de expressão a serviço de uma cultura de paz: “As crianças não só entregaram arminhas como também compuseram músicas e peças de teatro pelo desarmamento, pintaram e desenharam símbolos da paz e transformaram brinquedos violentos: uma espada virou um pássaro, e outras espadas foram “plantadas” em um vaso e viraram flores. Foi um espetáculo!”
Vivemos em período de transição, de lutas e idéias contraditórias, mas a experiência nos faz conscientizar e discernir. A juventude, corajosamente, quebra as estruturas convencionais e nos obriga a uma revisão de valores. A criança já começa a ser despertada para a criatividade e a arte, considerada elemento indispensável na educação. Segundo Herbert Read “A finalidade geral da educação é estimular o crescimento do que cada ser humano possui de individual, harmonizando ao mesmo tempo a individualidade assim conseguida com a unidade orgânica do grupo social ao qual pertence o indivíduo”.  Esse estímulo ao crescimento individual em harmonia com o grupo é o papel da arte na educação. Nela a criança encontra apoio para o seu desenvolvimento integral, que não é feito na base da concorrência ou da vaidade pessoal, mas na base da colaboração e do respeito mutuo.
Pertencemos a uma comunidade da qual não devemos fugir. É nela que vamos crescer. Ela nos ajudará a conquistar essa harmonia. A arte na educação não visa o incentivo de uma só criança mais bem dotada, mas a integração de todas no conjunto que formará a grande orquestra do futuro. Daí o perigo dos concursos infantis, das promoções que jogam uns contra os outros e que, em lugar de integrar, desintegram; em lugar de educar, deseducam. A criatividade é a forma de encontrar a liberdade, aquela liberdade que brota de dentro para fora, de uma pequena luminosidade que se acende dentro de cada ser humano, para caminhar ao encontro da libertação completa. É liberando a energia criadora que damos o primeiro passo para esse encontro. Enganam-se muitos pensando que só os artistas criam e os outros apenas contemplam. A energia criadora é propriedade de todo o ser humano e manifesta-se em graus, intensidades e maneiras diversas. Ela é a força que conduz o homem a superar-se a si mesmo identificando-se com sua própria interioridade. A criatividade é necessária ao homem e sempre o tem acompanhado em sua evolução. Agora, na era contemporânea, nesse encontro do oriente com o ocidente, encontramos a arte como forma de educação e recuperação do homem no século XXI, abrindo caminho por entre a barreira do materialismo, da massificação e da violência, despertando a criatividade que todo ser humano possui. A arte está sendo, mesmo inconscientemente, a energia que nos conduz a indagações mais profundas e nos prepara para a evolução. A criatividade estimulada e desenvolvida desde a infância será a forma de equilíbrio necessária a nossa época de automação. Incentivemos a criatividade, o trabalho das mãos, a libertação das potencialidades humanas e enxergaremos através delas o homem integral.

Fotos de Luciano Luppi e da internet

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