sábado, 7 de janeiro de 2012

MORTE E VIDA SEVERINA

No dia 28 de setembro de 2011, estreou no Teatro da Cidade em BH, a peça “Morte e Vida Severina”, montada por Pedro Paulo Cava. Ontem iniciou nova temporada na Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, devendo ser apresentada de quarta a domingo até 4 de março.
A peça é forte e traz em toda a sua intensidade a vida do retirante nordestino e as injustiças de um país cheio de contrastes. Nele a condição humana é tão extrema a ponto de reservar a cada pessoa apenas um retângulo de terra, sua própria sepultura, “a parte que te cabe neste latifúndio”. Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto se completam neste musical dramático. A série “Retirantes” de Portinari, projetada numa cortina de elástico no fundo do palco permite aos atores “entrar ou sair do quadro” como se eles fossem os próprios retirantes. A platéia também se sente profundamente sensibilizada pelo drama dos retirantes, que é também o drama de nosso planeta, com suas injustiças sociais. Este recurso de reunir a poesia de João Cabral com a música de Chico Buarque e as telas de Portinari é uma síntese das artes postas em ação, para maior impacto da platéia.
Pedro Paulo Cava escreveu um texto para o catálogo e transcrevo aqui uma parte de seu depoimento:
 “O teatro é a angústia dos homens em forma de poesia e movimento. Ofício complicado, intrincado, repleto de armadilhas nas palavras dos autores, na boca dos atores, nos corpos que suam sobre os palcos do mundo. Beleza e magia que encanta e emociona porque é vivo, pulsante, indignado e precisa de cúmplices e testemunhas para que morte e vida, vida e morte aconteçam todas as noites.
 O teatro é a perplexidade diante da condição humana. Ninguém o escolhe como forma de expressão e fica impune. Loucura e lucidez que conduz poemas como o de João Cabral a ganhar músicas de Chico Buarque e se transformar num canto à vida diante da presença constante da morte. A eles adicionei um Portinari que deu cores ao sofrimento dos brasileiros mais desprovidos de vida e cidadania. Três gênios que se completam.
 Espetáculo que costurei lentamente, buscando nas entrelinhas e nas formas da encenação, uma resposta qualquer para a “severinidade”  que vivemos. E mais uma vez encontrei ar, poesia, paixão, alegria e música no ato de criar. Reafirmei a minha convicção de que é essencial se emocionar diante do espetáculo que a vida descortina à nossa frente, porque os sentimentos são os motores vitais dos nossos corpos frágeis que caminham apressados em direção ao fim. São elas, as emoções, que nos mantém vivos e alertas neste trajeto, sempre adiando o encontro fatal.
 O que desejo? Apenas que espectadores se juntem aos atores nesta noite e em todas as outras, desfrutando a poesia da vida, mesmo que seja esta, franzina, apaixonante, comprada a retalhos todos os dias.” (texto extraído do catálogo do espetáculo)
Na estréia de “Morte e Vida Severina” em 28 de setembro de 2011,  na Pequena Galeria do Teatro da Cidade, tive a surpresa de ver Ferreira Gullar expondo serigrafias dos Anos 50, de ótima qualidade, que revelam a sua face de artista plástico, além de poeta e crítico de arte.
O espetáculo recebeu a premiação de “Melhor Cenário” no Prêmio SESC SATED pelo excelente trabalho de Paulo Viana, além de ter recebido indicações para outros prêmios.
No elenco: Tiago Colombini, Luiz Gomide, Adilson Maghá, Evaldo Nogueira, Luciene Lemos, Diorcélio Antônio, Priscila Cler, Gustavo Marquezini, Meibe Rodrigues, Adriano Alves, Fabiane Aguiar, Jefferson de Medeiros, Júlia Borges, Maria Tereza Gandra e Ivana Andrés.
(Para maiores informações sobre os espetáculos, exposições e demais ações culturais nesses 20 anos do Teatro da Cidade, ver o site www.teatrodacidade.com.br)
*Fotos de Guto Muniz
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