domingo, 5 de fevereiro de 2012

GUIGNARD, O MESTRE I

Quando Alberto da Veiga Guignard chegou a Minas Gerais, em fins de 1943, a convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, trouxe consigo uma bagagem artística já consolidada pela crítica. Desde essa época, era respeitado como grande artista e reconhecido internacionalmente. Na década de 40 passou três anos em Itatiaia, estado do Rio, e foi ali que recebeu a notícia de que sua Noite de São João acabara de ser adquirida pelo Museu de Arte Moderna de New York.
Guignard sempre se deu bem nas montanhas. Em carta a Portinari, dizia: "Sabes que sou montanhês e por isso, forte de saúde". Deslocando-se para Belo Horizonte, descobriu a luminosidade dos céus de Minas. As montanhas lhe ofereciam cenário para paisagens líricas, transparentes, igrejas surgindo da bruma, balões coloridos subindo aos céus.
Naquela época, a arte em Minas Gerais ainda estava ligada a um academismo formal. A presença de Guignard em Belo Horizonte trouxe uma completa renovação para o meio artístico. Juscelino Kubitschek abria novas direções para a arquitetura, criando o conjunto da Pampulha, convidando o maestro Bosmans para dirigir a orquestra sinfônica e Guignard para tomar sob sua direção a Escola de Belas Artes.
Um grupo de jovens se reuniu em torno desse artista vindo do Rio de Janeiro, amigo de Portinari, Di Cavalcanti e Santa Rosa. O Parque Municipal servia de inspiração para o mestre e seus discípulos. Exuberante, cheio de entusiasmo, conduzia seus alunos a longas caminhadas pelas alamedas do parque. Antes de começar o desenho, eles teriam de aprender a ver, a sentir a natureza em seu silêncio. A atenção consciente no agora, a observação da realidade exterior com a interioridade de cada um, possibilitava o despertar da liberdade criadora.
A carreira de Guignard como mestre teve início na Fundação Osório, no Rio de Janeiro. Desde essa época, ele estimulava o crescimento interno do aluno.
Guignard não perdeu a inocência das crianças. Durante toda sua vida manteve a espontaneidade criadora e pintou naturalmente, como cantam os pássaros. A espontaneidade, a alegria, o entusiasmo pela vida, o prazer de descobrir cores novas nos céus e nas montanhas, nos reflexos das águas, nos cortes das árvores, nas manchas dos muros velhos, eram qualidades inerentes à sua personalidade.
Guignard estendia esse entusiasmo aos seus alunos. A natureza era seu ponto de referência. "Olhe, o colorido dos céus de Minas Gerais tem um brilho diferente, repare as árvores, as folhagens, as raízes...".
Sua disciplina não se fundamentava em conceitos teóricos, mas na experiência: era observação, concentração e integração total da pessoa com a paisagem. O aluno, desprovido de recursos fáceis, submetido ao lápis duro, sem borracha, acabava afinando-se com a beleza de um olho humano e tinha uma semana para terminar o desenho de um rosto. O prazer não estava em terminar rápido, mas na própria concentração exigida pelo trabalho, no próprio ato de fazer, paciente e silencioso, no uso das mãos, no artesanato metódico e limpo. O desenvolvimento da percepção era também um dos caminhos para o auto-conhecimento e a auto-expressão. Criatividade e disciplina, liberdade e concentração, espontaneidade e reflexão fundiam-se dentro do mesmo estímulo.

*Fotos da internet

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