segunda-feira, 5 de novembro de 2012

NUNO RAMOS


Contemplo o trabalho do artista contemporâneo Nuno Ramos. Peço uma cadeira para sentar e ficar quieta, simplesmente olhando para aquela seqüência de triângulos que se justapõem, de formas geométricas em terceira dimensão. Sombras e luzes, pretos e brancos, reflexos no espelho d’água onde as formas submergem. A arte contemporânea permite o uso do espaço para construir e realizar memórias escondidas nos subterrâneos do inconsciente. Foi justamente realizando e concretizando essas memórias que Nuno Ramos produziu, com o auxílio fundamental do arquiteto Alen Roscoe um trabalho de grande impacto.
“Pare e olhe, não fique se dispersando em conversas. Pare, olhe, observe, sinta o presente em toda a sua beleza e intensidade.”
Estas palavras me vêm de dentro, é necessário chegar até o trabalho do jovem artista Nuno Ramos com total despojamento de idéias pré-concebidas. Sentar e contemplar foi o que fiz e o significado da obra foi me despertando momentos de reflexão. O primeiro toque me sugeriu serenidade e paz, uma paz originada, não da sugestão do conteúdo, mas da forma. Conteúdo e forma são importantes na realização de qualquer trabalho de arte, mas o que me tocou logo de início foi a harmonia dos triângulos e retângulos, das sombras e luzes. A demolição de 3 casas  motivaram o artista a produzir essa obra monumental. Veio do sofrimento, da perda, do sentimento de compartilhar a dor, de transmutá-la e transformá-la em arte, como uma flor de lótus que emerge do lodo. Esses momentos de vida são importantes se vivenciados em toda a sua intensidade. Conduzem o artista a uma criação que se liga intrinsecamente à sua própria vida, suas memórias e experiências. Na obra de Nuno, exposta na Galeria Celma Albuquerque, senti o impacto da transmutação e superação de uma experiência dramática vivida pelo artista.
Sobre a experiência artística, temos uma página admirável do grande poeta que foi Rainer Maria Rilke: "Versos não são, como tanta gente imagina, simplesmente sentimentos - são experiências: é preciso ver muitas cidades, homens e coisas, conhecer o vôo dos pássaros e o gesto das flores, quando se abrem pela manhã; voltar em pensamento aos caminhos das regiões desconhecidas, aos encontros inesperados, às separações já de longe previstas, às doenças da infância carregadas de profundas e graves transformações, aos dias fechados ou de sol, às manhãs de vento ao mar, às noites de travessia e de fuga. E tudo isto não basta. É preciso, também, as memórias das vivências passadas e mesmo estas não bastam. Pois é preciso também saber esquecê-las, quando são muitas, e ter-se a imensa paciência de esperar que voltem novamente. E, quando então tudo tiver retornado dentro de nós, como o sangue, a brilhar e a gesticular sem se distinguir de nós mesmos, só então pode acontecer que, na hora rara, a primeira palavra de um poema se levante no meio daquelas experiências e delas prossiga."

*Fotos da internet

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