segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


PISEAGRAMA, UMA IDEIA CIRCULANTE

Roberto Andrés, meu neto, nasceu no dia 12 de dezembro, aniversário de Belo Horizonte. Hoje ele é um dos grandes defensores do direito do cidadão de ocupar o espaço público.
Belo Horizonte, cidade cuidadosamente planejada no início do século XX, cresceu de forma desordenada. Seu traçado perdeu-se há muito tempo com a verticalização de vários bairros e o sufoco do asfalto.
Belo Horizonte já foi denominada cidade jardim, me lembro do cheiro de “damas da noite” quando percorríamos as ruas da cidade. Lembro-me também do tempo em que eu atravessava a avenida Afonso Pena, toda arborizada com árvores copadas, refrescantes. Brincávamos no Parque Municipal, fazíamos pic nic ali, à sombra das árvores. Roberto me fez reviver esses tempos, com o aniversário de sua filha Rosamaria. Levaram os “comes e bebes” para as crianças, e ali no gramado do parque, foi comemorado o aniversário da minha bisneta.
A revista Piseagrama, organizada por Roberto Andrés e sua esposa Fernanda Regaldo, nasceu desta necessidade transgressora de ocupar o espaço público, pisar na grama, fazer pic nic, alegrar as crianças com pipocas e balões, longe do sufoco das salas de festa enfeitadas com desenhos de Mickey Mouse.
Ali no parque, elas puderam participar diretamente do encontro com a natureza à sombra de árvores centenárias. Antigamente havia até um zoológico no Parque Municipal e meus filhos  eram levadas para visitar os macacos e oferecer para eles bananas e outras frutas.
No momento, Roberto procura reviver aspectos humanos do passado, esquecidos por completo nos tempos modernos.
Piseagrama ganhou novas direções, ampliou seu campo para um espaço maior: camisetas com mensagens ecológicas e sociais foram criadas para uso das crianças, e bolsas coloridas andam pela cidade, entram em supermercados, levando e trazendo mercadorias, objetos e coisas do consumo. As pessoas levam e trazem mensagens escritas nas bolsas e , mesmo sem que o percebam, vão levando e trazendo o pensamento ecológico e social de Roberto e Fernanda. A ideia de colocar mensagens nas camisetas e bolsas, é uma forma discreta e genial de fazer propaganda, divulgar pensamentos. Silenciosamente, sem grandes manifestações, essas mensagens ambulantes vão abrindo a consciência das pessoas: “Nadar e pescar no Arrudas”
“Ônibus sem catacras”, “Uma praça por bairro”, “Carros fora do centro”, “Parques abertos 24h”, etc.
“Piseagrama”aparentemente transgride, mas sobretudo está construindo e reeducando os governantes e a população de um modo geral.
No momento, os mesmos dizeres, impressos em cartões coloridos, formam um painel que está exposto no Itaú Cultural, em São Paulo.
“Piseagrama” atravessou as fronteiras de Minas, desceu as montanhas e continua a sua divulgação em outros estados do Brasil.

*Fotos da internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS” CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.







segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


TAGORE EM “TESOUROS DA ÍNDIA”

Rabindranat Tagore foi um dos poetas que inspiraram a minha geração. Recebi de Maurício Andrés o texto abaixo sobre este grande poeta indiano, extraído de seu livro “Tesouros da Índia”.

“Rabindranath Tagore descreve a India como uma anfitriã generosa. “A missão da Índia foi como a da anfitriã que tem que prover acomodações apropriadas para numerosos hóspedes, cujos hábitos e necessidades são diferentes uns dos outros. Isso causa complexidades infinitas, cuja solução depende não meramente de tato, mas de simpatia e de um verdadeiro entendimento da unidade do homem."
Para abrigar esses hóspedes tão diversos em seu território, a civilização indiana desenvolveu o espírito de tolerância e não-violência, que também aplica ao mundo animal e vegetal. Foi esse estilo de vida não predatórioda natureza que permitiu a sobrevivência milenar daquela civilização.
Continuando a refletir sobre a Índia, Tagore conclui: “Temos que reconhecer que a história da Índia não pertence a uma raça em particular, mas a um processo de criação para o qual várias raças do mundo contribuíram – os drávidas e os arianos, os antigos gregos, os persas, os maometanos do oeste e aqueles da Ásia Central. E por fim, foi a vez dos ingleses nessa história, trazendo-lhe o tributo de suas vidas; não temos o poder nem o direito de excluir esse povo da construção do destino da Índia."
Por sua diversidade cultural e política e sua formação histórica, a Índia é uma nação multinacional, que mantém unidade na diversidade e que foi celeiro e campo fértil para idéias e propostas globalistas, mundialistas e voltadas para o federalismo mundial. Nesse sentido, indianizar é mundializar. Rabindranath Tagore expressa essa convicção:
“Ao encontrar a solução para nosso problema, teremos ajudado a resolver também o problema do mundo. O que a Índia já foi, o mundo todo é agora. O mundo todo se está tornando um único país por meio das facilidades científicas. Está chegando o momento em que precisamos também encontrar uma base de unidade que não seja política. Se a Índia puder oferecer ao mundo sua solução, ela será uma contribuição para a humanidade. Há somente uma história - a história do homem. Todas as histórias nacionais são meros capítulos da história maior. E estamos  felizes, na Índia, por sofrer por tão grande causa.”
Controverso e polêmico, o sistema das castas visava a aprimorar as vocações individuais para as atividades intelectuais, comerciais, guerreiras e manuais; foi dessa divisão de aptidões que se originaram respectivamenteas grandes castas (brahmin, vaishya, kshatriyas, shudra).
Comenta Tagore:“O que os observadores ocidentais não conseguem discernir é que, em seu sistema de castas, a Índia seriamente aceitou sua responsabilidade de resolver o problema de raças de maneira a evitar toda fricção, e ainda assim oferecendo a cada raça liberdade dentro de suas fronteiras. Admitamos que a Índia não obteve nisso um sucesso absoluto. Mas também deve ser lembrado que o ocidente, situado mais favoravelmente quanto à homogeneidade de raças, nunca deu atenção a esse problema; sempre que confrontado com ele, tentou torná-lo mais fácil, ignorando-o."
A capacidade da sociedade indiana de suprir suas necessidades em um espaço limitado foi percebida por seu grande poeta RabindranathTagore. Ele afirmou que a civilização indiana daria sua contribuição fundamental para a sobrevivência da espécie, ainda que com o próprio sacrifício. Essa contribuição, característica de uma sociedade de visão mundialista ocorre de maneira pouco ostensiva e é cada vez mais necessária.
Tanto o Brasil quanto a Índia são pródigos em riquezas naturais. A convivência pacífica com os países vizinhos lhes proporcionou uma organização de poder voltada para ajustamentos internos. O poeta Radinbranath Tagore assim descreve a situação indiana:
“Há outros povos no mundo que precisam superar obstáculos em suas redondezas, ou a ameaça de seus vizinhos poderosos. Eles organizaram seu poder até que estivessem razoavelmente livres da tirania da Natureza e dos vizinhos humanos, mantendo em mãos um excedente para empregar contra outros. Na Índia, sendo internas as dificuldades, nossa história foi de ajustamento social contínuo e não a história do poder organizado para defesa e agressão.” (Referências a TAGORE, Rabindranath. Nationalism. Delhi: Macmillan, 1976, no livro Tesouros da India.)

Abaixo, o poema de Tagore:

Cântico da Esperança
Não peça eu nunca
para me ver livre de perigos,
mas coragem para afrontá-los.

Não queira eu
que se apaguem as minhas dores,
mas que saiba dominá-las
no meu coração.

Não procure eu amigos
no campo da batalha da vida,
mas ter forças dentro de mim.

Não deseje eu ansiosamente
ser salvo,
mas ter esperança
para conquistar pacientemente
a minha liberdade.

Não seja eu tão cobarde, Senhor,
que deseje a tua misericórdia
no meu triunfo,
mas apertar a tua mão
no meu fracasso!

Rabindranath Tagore, em "O Coração da Primavera" (Tradução de Manuel Simões)

*Fotos da internet e de arquivo

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA



terça-feira, 18 de novembro de 2014


DOM EUGÊNIO SALES E AS TAPEÇARIAS DE N.SRA DE COPACABANA

Cerca de 6000 fiéis acompanharam, há alguns anos,  o velório de Dom Eugênio Sales no Rio. Uma pomba branca, símbolo do Espírito Santo, pousou sobre o caixão e ficou durante toda a tarde perto do corpo. Dom Eugênio morreu tranquilamente enquanto dormia, uma morte serena de quem seguiu seu caminho ajudando os fiéis e praticando a justiça.
Durante o regime militar ele, como chefe da Igreja Católica, ajudou perseguidos e refugiados políticos a saírem do país.
“Estima-se que 4000 a 5000 pessoas tenham recebido ajuda do então cardeal arcebispo do Rio para fugirem.” Fui acompanhando pelos jornais, especialmente a Folha de São Paulo, as notícias referentes  a Dom Eugênio e relembro a sua atuação justa e coerente diante de outros fatos, não políticos. Na década de 1970, recebi a encomenda de realizar 3 projetos de tapeçaria para a Igreja N. Sra de Copacabana, no Rio de Janeiro. O projeto era de grande responsabilidade e eu, como artista, me empenhei de corpo e alma na sua realização. As tapeçarias foram executadas no Rio por minha prima Maria Ângela Magalhães que ali dirigia um artesanato da mais alta qualidade. Maria Ângela, com seu talento artístico, interpretava os projetos transformando a técnica do pastel no bordado. Ela mesma tingia as lãs e orientava as bordadeiras. As tapeçarias da Igreja eram enormes, duas para a nave principal e outra, também monumental, para a capela ao lado. Tudo isto foi feito com muito amor e dedicação. Resolvi não cobrar da Igreja: “Meus projetos são de graça!” isto foi declarado na época, mas o cardeal, que liderava as reuniões, não concordou com a minha resolução. “Todos os outros artistas cobraram, esta artista precisa receber também.”
Decidiram me enviar um cheque com o valor dado pela equipe de produção.
Por incrível que pareça, esta atitude do cardeal me possibilitou realizar a minha primeira grande viagem à Índia.
Naquela ocasião eu não tinha recursos para as passagens, foi de grande importância para mim a decisão que foi tomada.
Até hoje relembro com muita gratidão este fato e costumo repetir: “Foi o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales que me possibilitou realizar a minha primeira grande viagem à Índia.” Agora posso dizer que o cardeal me deu a oportunidade de iniciar um diálogo inter religioso.

*Fotos de arquivo e da internet


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.



terça-feira, 4 de novembro de 2014


OUTRAS PESSOAS, SER OU NÃO SER

No dia 25 de outubro de 2014 tivemos uma surpresa. Luciano Luppi, o nosso talentoso ator, interpretou poemas de Fernando Pessoa no espetáculo "Outras Pessoas, ser ou não ser."
Lembrei-me novamente da Índia.
“Este é um lugar sagrado de arte, deixem as preocupações do lado de fora”, dizia um cartaz à porta de uma sala de dança no sul da Índia.
Realmente estávamos preocupados, alias o Brasil estava preocupado e corria por todo o lado o mesmo assunto – política.
A recomendação de silêncio e reverência completa à arte cênica não precisava de palavras. Ali estava o cenário, como uma advertência.
Foi realmente impactante aquela figura imensa, vestida de túnica escura, com uma máscara branca e luvas brancas. Confesso que fiquei assustada, pois não esperava aquele primeiro choque. Não foi preciso dizer que a turma de espectadores foi se assentando devagar, sem fazer barulho. Dali em diante o espetáculo transcorreu com a maior seriedade, a palavra acrescida e transmutada ao sabor da interpretação. Textos de Fernando Pessoa e Shakespeare foram de certo modo o roteiro daquela viagem para um mundo além dos interesses conflitantes do presente.
 O silêncio foi necessário e aconteceu. As palavras de Fernando Pessoa, o grande poeta português, foram nos dirigindo para caminhos desconhecidos que só a arte pode desvendar. Ali as palavras não estavam somente guardadas dentro de livros. Elas estavam vivas na interpretação  de Luciano e tocavam o público como uma música. Ivana acompanhava os textos operando uma trilha sonora condizente com a peça, despertando e conduzindo as emoções da platéia.
Realmente o silêncio era necessário, para que as palavras do poeta português ecoassem por nossas montanhas.
No final, Luciano veio me oferecer o seu trabalho, como um presente para  o IMHA, agora com nova sede no Retiro das Pedras.
Marília, como presidente, agradeceu a generosidade dos artistas.
Este voluntariado, totalmente desapegado de patrocínio, é uma benção que será aplaudida por todos nós.
Este é o nosso agradecimento .
Segue abaixo trecho de um poema de Fernando Pessoa:
“Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Sob a leve tutela
De deuses descuidosos,
Quero gastar as concedidas horas
Desta fadada vida.

Nada podendo contra
O ser que me fizeram,
Desejo ao menos que me haja o Fado
Dado a paz por destino.

Na verdade não quero
Mais que a vida; que os deuses
Dão vida e não verdade, nem talvez
Saibam qual  a verdade”

*Fotos de Ivana Andrés, Henrique Luppi e Maurício Andrés


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG, “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.




quinta-feira, 16 de outubro de 2014


FUNÇÃO DA ARTE NA SOCIEDADE

 A arte é um ponto de contato entre os homens; por meio dela há uma comunicação maior de alma para alma.
 A identificação de sensibilidades aproxima o espectador do artista, ou seja, do sentimento transmitido pelo objeto criado
 "A obra de arte, por concreta e objetiva que seja, não possui efeitos constantes e inevitáveis, exige a cooperação do espectador e a energia que este coloca dentro dela, recebeu o nome especial de 'empatia' ". (Herbert Read)
  A comunicação artística é a descoberta pelo espectador, na obra criada, de seus próprios sentimentos e emoções.
 Assim como toda a criação é acompanhada de alegria interior, também a comunicação do sentimento humano através da beleza artística realiza-se num clima de alegria e compreensão.
   A Arte foi colocada, por Deus, no mundo, para trazer esta alegria aos homens. A alegria de poder compreender a mesma beleza e, por meio dela, se compreenderem melhor. A música e a poesia trazem, de um modo mais penetrante, esta comunicação interior de alma para alma. Elas nos elevam acima de nós mesmos, despertando aquilo que estava adormecido em nosso íntimo.
 "A música, ao contrário das outras artes, emociona mais rapidamente. Pode orgulhar-se mesmo de arrastar multidões. E eis o comovente espetáculo de milhares de ouvintes, em religioso recolhimento, dominados apenas pelo poder da arte".(Matteo Marangoni)
 Muitas vezes, o artista é o porta-voz de seus contemporâneos. Ele tem o poder de envenenar ou elevar as massas, já que uma obra de arte irmana e influencia os homens. Daí a preocupação dos estados totalitários em manobrar os artistas, como instrumentos políticos, na defesa de seus interesses. Eles sabem que a arte falando, diretamente, ao coração do homem é a melhor mensageira de suas ideias. Sentindo a comunicação da beleza através da arte, já somos, de certo modo, artistas também.
  "Através da beleza artística, portanto, os artistas (refiro-me aos que criam e aos que contemplam a beleza, pois o senso artístico se manifesta tanto na criação como na contemplação da beleza) se falam íntima e inteligivelmente. Compreendem-se. Amam-se. Choram as mesmas tristezas e cantam as mesmas alegrias. Fazem-se mutuamente presentes". (Pe Orlando Vilela)
   Na música, na dança, nas artes visuais e no cinema, esta comunicação se faz com maior facilidade entre povos de raças diferentes, porque não existe a barreira da língua. Podemos receber, diretamente, a mensagem de beleza que um Beethoven ou um Bach nos trazem, podemos admirar as obras de artistas do passado, de um Miguel Ângelo, um Greco, um Goya. E vemos que a verdadeira arte não envelhece, mas permanece, ao lado de nossa vida efêmera. Poucas coisas permanecem tão vivas como a arte, para identificar cada geração.
     Passam-se os interesses do momento, a política, os costumes. A ciência evolui. Mas a verdadeira obra de arte continua, através dos séculos, trazendo um testemunho vivo de beleza para o mundo...( Trecho de meu livro VIVÊNCIA E ARTE, Editora Agir)

*Fotos de internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA






















quarta-feira, 1 de outubro de 2014


ARTE MODERNA, UMA REVOLUÇÃO NAS ARTES

O texto abaixo foi extraído do meu livro “Vivência e Arte”, editado nos anos 60.

“A França desde o século XIX tornou-se o principal centro das artes. Seria então justo lembrar, ao iniciar este trabalho sobre arte moderna, que a maioria dos seus movimentos artísticos teve início em Paris e ali se desenvolveu.
         Contra a arte decadente e imitativa da academia, começaram a germinar em França as primeiras ideias revolucionárias. Daí surgiu o movimento moderno de renovação. A arte passou, novamente, a ser vivida pelos artistas como fonte de criação pura, e não imitação da natureza. Como pesquisa, e não submissão. Como experiência pessoal, e não cópia servil. Não falo aqui, especialmente, da arte abstrata, mas da abstração na obra de arte, qualidade essencial, indispensável, para haver criação autêntica.
         O artista pode partir do modelo, mas depois transforma linhas, muda cores e cai na abstração. O que a arte moderna fez foi, justamente, recapitular estas verdades, esquecidas pelo academismo. A revolução moderna foi um despertar do sono e do espírito de acomodação, dominante até o princípio do século XIX, para redescobrir valores e concepções eternas da verdadeira arte.
         Segundo Flávio de Aquino, inventar foi o grande feito do nosso século, em todos os terrenos do conhecimento humano". Inventar, também, foi a maior realidade da arte contemporânea, acompanhando o progresso científico do século XX.
         Com a inquietação dos artistas modernos, ávidos de liberdade, mundos desconhecidos foram revelados e a arte passou a ser a expressão de sentimentos puros, transfigurados pela personalidade dos autores.
         Segundo Pe. Collet, "a arte é a impressão digital duma civilização. Transmite, de certo modo, aos séculos seguintes, o testemunho vivo do melhor e do pior da época, e antecipa também o futuro, pois o artista, mesmo inconscientemente, recebeu o dom da profecia."
         Não são as telas de Chagall, cheias de um surrealismo lírico, como que uma visão antecipada dos acontecimentos mais recentes, que movimentaram o mundo, como sejam a conquista dos espaços interplanetários?
         Vivemos no século da máquina, da indústria, as descobertas científicas tentando dominar as forças do espírito, pela própria força da matéria. Esta preponderância da matéria sobre o espírito marcou pela violência quase toda a arte do nosso tempo.
         O século em que se inventaram os campos de concentração, que deu origem a duas guerras implacáveis, em que se descobriu a força destruidora da energia atômica, que usou do progresso material contra todos os direitos da pessoa humana, não mereceu outra ilustração a não ser a Guernica de Picasso.

*Fotos da internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.







quinta-feira, 18 de setembro de 2014


POR QUE A SEMELHANÇA BRASIL - ÍNDIA

O texto abaixo foi escrito por minha amiga Célia Laborne, quando o livro "Oriente- Ocidente, integração de Culturas" foi editado. Célia foi minha colega na primeira turma da Escola Guignard, mas se dedicou mais ao jornalismo. Célia é, além de jornalista, escritora e poeta, atualmente muito reconhecida em Portugal. Ela tem há muitos anos, um blog na internet, "Vida em Plenitude", que pode ser acessado através desta minha página.

“Oriente e Ocidente são duas metades que se juntam e se integram, hoje de forma maior e mais participada. Porém essa integração começou há muitos séculos atrás, segundo os registros culturais e artísticos de vários pesquisadores. Entre eles, a artista Maria Helena Andrés, que traduziu suas pesquisas sobre o barroco, os hábitos e os costumes do oriente e ocidente, especialmente representados pelo Brasil e a Índia, da forma mais viva e perfeita , isto é, dentro de sua arte.
Viajando várias vezes  para a Índia e Goa, Maria Helena estudou e captou a semelhança nas estruturas básicas da cultura brasileira e indiana, sobretudo. E dessa pesquisa nasceu um belíssimo livro onde há a amostragem pictórica de tradições, de folclore, de música, de hábitos, etc, numa sucessão de pranchas coloridas e artísticas. Verdadeiros painéis de integração Brasil- Índia.
Maria Helena teve, na elaboração do livro, a ajuda eficiente e valiosa de sua filha, também artista Eliana Andrés – também ela com uma longa estada na Índia.
O livro, além da apresentação, é todo ele montado em pranchas próprias para serem aproveitadas em belíssimos quadros. São trabalhos feitos em momentos de inspirada e feliz criatividade da artista. Eles fazem um paralelo, mostrando na parte superior do desenho a cena brasileira e no espaço inferior uma equivalente cena indiana.
As pranchas começam mostrando os veleiros portugueses que tomaram o caminho das Índias e das Américas e fizeram um importante contato, por certo não o primeiro. Vêm em seguida, cenas típicas, festas folclóricas, o Boi- Bumbá, os festejos do interior da Índia; as procissões devocionais, com o povo aqui levando imagens cristãs e lá divindades do hinduísmo.
Ou a Igrejinha do “Ó” com seu telhado chinês e os profetas de Congonhas com turbantes orientais.
Também nova semelhança no artesanato. O trabalho dos cesteiros como uma grande mandala no centro da prancha, mostra acima e abaixo o povo diligente e criativo trabalhando ao ar livre. Ou ainda as cerâmicas de forma muito parecida no artesanato popular.
E o livro é, assim, todo ele um desdobramento de colorido, sensibilidade  e, sobretudo, profunda pesquisa do que se cultiva, se cria, se crê e se cultua em nossa terra e na longínqua Índia.
Cada prancha é toda uma história, um aprendizado, uma beleza nova, valorizada pela explosão do colorido que, nas duas terras, é intenso e vive, além do desenho preciso de uma artista tarimbada e consagrada. Maria Helena não se esqueceu de observar também a música, o ritmo, os tambores e as toadas populares que soam familiares, segundo ela, aos ouvidos brasileiros.
O livro é todo uma obra de arte e Maria Helena o apresenta bem quando diz, logo no início:

“Sentindo as semelhanças existentes entre os povos e os contrastes gerados pelas diversas culturas, observando como essas culturas se comunicam , começamos a perceber que os seres humanos pertencem realmente a uma só e única família. Há razões desconhecidas que promovem semelhanças entre povos muitas vezes distantes, como a Índia e o Brasil. As terras parecem irmãs. Quando estivemos no vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, pudemos sentir, a cada instante, um elo ligando as duas culturas, na dança, na música, nos desafios cantados, no artesanato, na organização familiar e nas festas populares 

“Maria Helena Andrés é uma artista do presente, isto é, faz de sua arte integração e compreensão entre os povos, ela ensina unidade e fraternidade através de sua forma de expressão: a pintura e o desenho, e faz isso sem qualquer preocupação de vaidade, personalismo ou visão comercial.” (Célia Laborne Tavares, Estado de Minas, 22/12/1984)

*Fotos de arquivo

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

segunda-feira, 1 de setembro de 2014


ECOLOGIZAR O BANCO DO BRICS

Aconteceu recentemente um encontro dos BRICS em Fortaleza, ocasião em que foi criado o Banco de Desenvolvimento do BRICS. Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto abaixo sobre a necessidade de se ecologizar a economia.

“Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul  constituem o BRICS, o grupo dos cinco maiores países emergentes. Juntos,  esses cinco países têm 40% da população mundial e cobrem 23% das terras do planeta.
Em julho de 2014, eles se reuniram em Fortaleza e decidiram criar o banco de desenvolvimento do BRICS, um projeto unificador entre esses cinco países.
Bancos de desenvolvimento direcionam recursos para investimentos e canalizam fluxos de capital para os projetos aprovados.Assim, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o BNDES, entre outros concederam crédito para projetos necessários. Entretanto, foram alvo de críticas por parte de organizações da sociedade, por terem financiado projetos social eambientalmente  questionáveis.
Os Princípios do Equador, propostos em 2003 pela Corporação Financeira Internacional (IFC), vinculada ao Banco Mundial, estabeleceram diretrizes sociais e ambientais para as instituições bancárias. Naquele mesmo ano, a Declaração de Collevecchio, apoiada por organizações da sociedade civil, ressaltou a importância das instituições financeiras assumirem compromissos com  a prevenção de impactos das atividades que financiam, com a transparência das informações, com a prestação de contas à sociedade. Ressaltou-se a necessidade de se repensar a missão dos bancos e a urgência de que eles renunciem a oportunidades de negócios que sejam social ou ambientalmente destrutivas.
Bancos de desenvolvimento precisam ter  missão, mandato e orientação políticaclaramente definidos pelas sociedades que os instituíram.
A espécie humana já domesticou animais e usou sua força. Já domesticou vegetais e se alimentou com eles. Já canalizou a força das águas para produzir energia, para matar sua sede e irrigar as plantações.  Colocou a seu serviço  as energias de todo tipo, fósseis e renováveis.No contexto da crise ecológica e climática planetária, é um desafio ecologizar o capital, pois,  caso seja  deixado livre e sem regulação, sua força, como a das águas, pode ser destrutiva. É preciso colocar a força do capital  a  serviço do bem estar humano e da saúde ambiental.
Assim, por exemplo, o banco do BRICS poderia inovar na utilização de indicadores de sustentabilidade para orientar suas operações e direcionar suas ações no sentido de reduzir injustiças equalizando as pegadas ecológicas per capita dos habitantes dos países que o criaram.
O banco do BRICS poderia atuar como um laboratório para experimentar esse modo de lidar com o capital,realizando suas operações de crédito de forma sintonizada com uma visão ecologizada. Ele  opera com 50 bilhões de dólares,  recursos modestos se comparados com os trilhões de dólares do capital circulante no mundo.  Entretanto,essa poderia ser uma  oportunidade para testar um novo modo de relacionamento com o capital. Sendo exitoso, poderia servir como exemplo e referência para regular os fluxos de capitais, colocando-os a serviço do bem estar e da saúde humana e ambiental.”
( Maurício Andrés Ribeiro, autor dos livros Ecologizar, Tesouros da Índia e Meio Ambiente &Evolução Humana. www.ecologizar.com.br e ecologizar@gmail.com)

*Fotos de arquivo

VISITE TAMBÉM O MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.







terça-feira, 19 de agosto de 2014


IGNACY SACHS, PIONEIRO NA COOPERAÇÃO ÍNDIA - BRASIL

Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto abaixo que nos mostra com muita clareza a importante missão de estreitar o intercâmbio Oriente-Ocidente e, de modo especial Brasil e Índia. Maurício nos lembra neste artigo a presença de Ignacy Sachs que, na década de 50 iniciou este intercâmbio.
“Nos idos de 1977, quando pus os pés na Índia pela primeira vez, sabia que percorria caminhos que Ignacy Sachs  trilhara, pioneiramente, nos anos 50. Sou grato  a ele pelas orientações e pelas valiosas referências que me ofereceu desde então. Sinto-me em ótima companhia filosófica e intelectual, que me estimula a prosseguir no caminho das Índias.
Ignacy Sachs é socioeconomista, nascido na Polônia e naturalizado francês. Viveu quatorze anos no Brasil, dirigiu o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Doutor pela Universidade de Delhi, na Índia, durante mais de 65 anos Ignacy Sachs trabalhou para a cooperação Brasil-Índia. Em uma entrevista, impressionado com a independência da Índia em 1947, perguntava: “Como um país colonizado consegue se livrar da dominação do maior império colonial do mundo quase sem derramamento de sangue? A mensagem é absolutamente extraordinária.”(1).
Gandhi enfatizava a importância da autolimitação das necessidades e foi para Sachs uma referência no tema do desenvolvimento: “Gandhi para mim era e continua a ser o precursor das boas teorias de desenvolvimento, pela maneira como considerava a massa camponesa como o ator central do processo de desenvolvimento.”  Sachs também foi  inspirado pelo prêmio Nobel de Economia Amartya Sen: “Foi a leitura de Amartya Sen que me levou a propor a reconceitualização do desenvolvimento em termos de universalização efetiva do conjunto das chamadas três gerações de direitos: os direitos políticos, civis e cívicos (a democracia como pedra angular, foundational value, diz Sen); os direitos econômicos, sociais e culturais, incluindo o direito ao trabalho decente; e por último os direitos coletivos do desenvolvimento, ao meio ambiente, à infância”.(2)
Nos anos 50, enquanto fazia o doutorado em Delhi,  Ignacy Sachs vivenciou o forte prestígio internacional daquele país, que demonstrava grande confiança em si próprio e que recebia chefes de estado e cientistas sociais de fama mundial. Também são presentes em  textos de Sachs  a admiração pela Índia, descrita como terra de inspiração e laboratório do desenvolvimento. Neles, expressou sua dívida intelectual para com os indianos e nomeou aqueles de quem recebeu estímulos: os economistas K.N. Raj, ex-reitor da universidade de Delhi; Sukihomoy Chakravarti; Deepak Nayar, reitor da universidade de Delhi; Amartya Sen. Além deles,  Sachs relembra a importância dos contatos com outros cientistas, tais como o politólogo Rajni Kothari; o historiador da ciência Rahman; Ashok Parthasarathi; Amulya K.N.Reddy; M.S. Swaminathan; Anil Agarwal; o ecologista Gadgil e o historiador Guha.
Ao acreditar na importância da cooperação entre países tropicais, que podem construir civilizações modernas da biomassa, Sachs enfatizou a necessidade de abre-alas para esse desenvolvimento e propôs que o Brasil e a Índia assumam tal posição. Reforçou a importância dos brasileiros se aproximarem dos indianos através de rede de cooperação técnica por biomas. Ao postular a reforma da ONU, Ignacy Sachs enxergou as possibilidades da liderança colaborativa desses dois países no aprimoramento das instituições internacionais, oxigenando o ambiente e fazendo circular ideias novas, originárias do pensamento do sul.
Hoje continuam precários os laços culturais e de comunicação entre esses países. Para transpor esse abismo propôs estabelecer um centro de pesquisa sobre o Brasil contemporâneo em uma universidade indiana e um centro de pesquisa sobre a Índia contemporânea em uma universidade brasileira e intercambiar estudiosos e bolsistas, criando massa crítica de pessoas que lancem pontes de cooperação. Seria uma estratégia para, em poucos anos, formar um conjunto de jovens com melhor conhecimento mútuo.
A Índia é uma terra fértil para se estudar e compreender a evolução humana  e o papel que a nossa espécie desempenha nessa atual crise da evolução. O conhecimento aprofundado sobre psicologia e sobre a natureza do ser humano encontrado em filosofias indianas ajuda a lidar com esse grande ator da crise atual. No campo da ecologia do ser, dos estudos da consciência e da educação integral, a civilização indiana é guardiã de riquezas valiosas para a autosuperação humana.
A cosmovisão indiana propõe que cada um de nós nessa vida tem seu dharma, sua missão ou tarefa a cumprir. Trabalhar pela aproximação Índia-Brasil tornou-se parte de meu dharma, que exerço com alegria. Agradeço à Índia pela inspiração que me proporcionou.” (Maurício Andrés Ribeiro é ex-pesquisador visitante no Indian Institute of Management, Bangalore. Autor de Tesouros da Índia para a civilização sustentável. www.ecologizar.com.br  ecologizar@gmail.com)

*Sachs foi professor da Universidade de Varsóvia e conselheiro especial da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Eco-92. É autor de vários livros e artigos: Capitalismo de Estado e subdesenvolvimento (Vozes, 1969), Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir (Vértice, 1981), Espaços, tempos e estratégia de desenvolvimento (Vértice, 1986), Estratégias de transição para o século XXI; A terceira Margem.

[1] Estudos avançados vol.18 no. 52 São Paulo Dec. 2004. Experiências internacionais de um cientista inquieto. Entrevista com Ignacy Sachs
[2] In A Terceira Margem, pág. 316.

*Fotos de arquivo 

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG "MEMÓRIAS E VIAGENS", CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA