sexta-feira, 14 de março de 2014


GUARDIÃO DAS MONTANHAS

O quadro intitulado Guardião das Montanhas, pintado no Retiro das
Pedras em 1976, tem uma história, o seu título foi movido por uma
necessidade interior, que só hoje consigo interpretar: preservar,
defender e guardar a natureza dessa região privilegiada de Minas
Gerais. O "Guardião das Montanhas" está no limite entre o figurativo e
o abstrato, entre a terra e o céu. Embaixo as montanhas, bem
figurativas e riscando o céu incisivamente o gestual direto e firme do
guardião. Na vida real o guardião não é visível aos olhos, mas ele
existe. Existe e vai funcionar no tempo certo, quando a terra for
destruída pela ambição dos homens. A natureza parece serena e o sol se
levanta e se põe seguindo seu ciclo natural. Dizem que essa região foi
mar antigamente e da minha janela eu fico pensando: quantos anos se
passaram desde a formação dessas terras? Milhares de auroras e
poentes, milhares de plantas, de animais raros que se extinguiram.
Os homens vieram num passado recente, muito depois da formação da
paisagem. De acordo com os índios guaranis os homens vieram ao mundo e
receberam o dom da palavra para revelar aos outros seres humanos que
viemos da natureza e somos parte dela. Somos parte da natureza e parte
do universo.
Na Índia o Baghavad Gita nos diz: viemos de uma Essência e a ela vamos
retornar, todos nós, homens, animais e plantas.
O pensamento de retorno à Essência é o mesmo em todas as tradições.
Esse retorno pressupõe respeito e reverência pelo que já existe e se
formou naturalmente. As pedras existem e não foram plantadas, nem
cultivadas, sua formação espontânea seguiu o ritmo da criação da Terra
e remete a milênios. As pedras assistiram a história de Minas com a
chegada dos bandeirantes movidos sempre pela ambição das riquezas.
Pedras reluzentes, esmeraldas e brilhantes tiveram também uma história
a nos contar, de perdas e ganhos, de morte e ostentação, de viagens
pelos mares a caminho da corte. A ambição das riquezas movimentou e
povoou as cidades mineiras, construídas ao longo das montanhas,
seguindo o ritmo das lavras. Diamantina teve sua história de luxo e
poder, Vila Rica guardou por muito tempo seu título de capital das
Minas.
A história de Minas Gerais traz a memória dos exploradores da terra,
que para as montanhas traziam também a cultura de além-mar. Arquitetos
e artistas construíram as cidades que hoje são parte do nosso
patrimônio. Houve luta, injustiça e morte durante o processo lento da
exploração das pedras e do ouro, mas em compensação um legado
artístico nos foi deixado. Essas duas fases de exploração de Minas
Gerais já fazem parte do nosso passado. No momento assistimos a uma
terceira fase da exploração de Minas Gerais, a fase do Ferro.
Estamos na era da velocidade. A tecnologia moderna possibilitou o
acesso rápido a todos os empreendimentos. A devastação da natureza que
se processou lentamente nos séculos anteriores, hoje alcança uma
velocidade assustadora. Há máquinas que sugam o solo, penetram as
profundezas da terra em busca do minério mais procurado hoje em dia, o
ferro.
SOS Planeta Terra! É necessário que haja um desenvolvimento
sustentável nas áreas exploradas pelas mineradoras.
No 2º Festival de Inverno de Entre Rios de Minas, crianças da cidade
se manifestaram de uma forma surpreendente, conscientizando os adultos
da sua responsabilidade. Transcrevo um pequeno texto surgido
espontaneamente durante oficina de Literatura de Cordel:
Queremos viver
Queremos cantar
Queremos aprender
O verde preservar
É importante lembrar que a Serra da Calçada, onde estão situados
vários condomínios residenciais próximos a Belo Horizonte, faz parte
da Serra do Espinhaço, reconhecida pela Unesco como uma reserva da
Biosfera. Nesta região existem plantas e animais raros, que só podem
sobreviver nos campos rupestres. Com a derrubadas das árvores para
sondagem do solo, os animais desorientados começam a invadir os
condomínios vizinhos. Qual seria a forma de atuar nessas áreas
preservadas? Qual o caminho que podemos escolher para preservação
dessa natureza privilegiada?
Às vezes fico pensando o que seria do Pão do Açúcar e do Corcovado se
ali existisse minério de Ferro. O Cristo redentor, considerado hoje
como a 3ª maravilha do mundo moderno, não teria conseguido este grande
prêmio. O Cristo não está sozinho, pertence a uma paisagem de
montanhas que fazem do Rio de Janeiro a Cidade Maravilhosa.

*Fotos de Euler Andrés

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sábado, 1 de março de 2014


OLHE BEM AS MONTANHAS

 Cantor, violonista, flautista, compositor e arranjador, o músico Alexandre Andrés vem sendo reconhecido como um dos artistas mais promissores da nova geração em Minas Gerais. Alexandre Andrés vem desenvolvendo um trabalho criativo intenso, tanto na música instrumental quanto no terreno das canções, feitas em parceria com o letrista mineiro Bernardo Maranhão e registradas nos dois primeiros CD de Alexandre, “Agualuz” (2009) e Macaxeira Fields (2012). Para esse show no Teatro SESC Palladium, Alexandre lançou seu terceiro álbum autoral, intitulado "Olhe bem as montanhas" que contará com um repertório que mescla canções e obras instrumentais. O CD foi gravado em dezembro de 2013, contando com a participação, além de Alexandre, dos músicos Rafael Martini, Trigo Santana e Adriano Goyatá e do renomado engenheiro de som, Chico Neves. 

Quando Alexandre nasceu, eu me encontrava na Índia, com um pequeno grupo de brasileiros. Havíamos visitado o ashram de Ramana Maharishi, situado no sul da Índia, junto à montanha de Arunachala.  Arunachala é considerada montanha sagrada, onde o deus Shiva apareceu em forma de uma coluna de luz. Há cânticos devocionais em torno desta montanha, as pessoas vêm de longe para reverenciá-la. Na despedida do ashram viemos cantando Arunachala Shiva Shiva, até que ela sumisse na curva da estrada. Foi quando me surpreendi cantando “Alexandre, Shiva, Shiva”.
Meu neto, Alexandre Andrés, naquele momento, nascia no Brasil. Hoje, este mesmo neto já tem 23 anos, é um músico conhecido no Brasil e no exterior, já percorreu o mundo, já esteve em Nova York, produziu vários Cds e o último, Macaxeira Fields, conquistou recentemente o prêmio de melhor música brasileira, concedido por um grupo de críticos e jornalistas do Japão.
O CD Macaxeira Fields foi editado no Japão e este próximo, que está sendo lançado em Belo Horizonte, também seguirá para o Japão.
No momento, Alexandre está prestando homenagem às nossas montanhas. “Olhe bem as montanhas” foi o título escolhido por Alexandre para este novo CD. Lembro-me de Manfredo Souza Neto e seus adesivos que, colocados nos carros, percorriam a cidade. Agora a música de Alexandre homenageia as montanhas.
A música, de todas as artes, é a que mais toca a sensibilidade das pessoas. Através da música, penetramos na floresta Amazônica, sentimos a unidade do planeta, tomamos consciência de que estamos morando num lugar privilegiado, cercado de montanhas. Alexandre e sua equipe de jovens artistas está tocando para as montanhas, para que elas sejam consideradas sagradas como a montanha de Arunachala, na Índia, e não como uma fonte de lucros materiais.
Que a música abra a nossa consciência para esta ligação que temos com a terra, com as águas, as montanhas e os céus de Minas.

Lembro aqui as palavras de um grande índio, o Chefe Seattle:
“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.”
“Olhe bem as montanhas” vai percorrer o mundo com a sua mensagem de paz.

*Fotos de arquivo, de Maria Helena Andrés e da internet

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