terça-feira, 28 de abril de 2015


RIQUEZAS DA ÍNDIA PARA A EVOLUÇÃO HUMANA

Transcrevo abaixo este texto do Maurício Andrés Ribeiro sobre a Índia.

“O Centro de Estudos Indianos da UFMG promove palestras mensais sobre temas da Índia. Fui convidado para falar sobre as riquezas da Índia para a evolução humana. O público era jovem, interessado, fez muitas perguntas sobre castas, ecofeminismo, multiculturalismo, meditação. Ao final foi servido lassi e samosa, partes da cultura culinária indiana.
Falei que o ser humano está em evolução, em transição entre o que já foi desde o início da espécie até o homo sapiens de 160.000 anos e até os nossos dias do antropoceno, o período da história em que nossa espécie tem uma influência e provoca um impacto crescente no planeta e no clima. O rumo da evolução daqui para diante será cada vez mais influenciado pelo comportamento de nossa espécie e, em última instancia por sua consciência. Se ela pressionar num rumo de ecocídio, poderá provocar seu próprio colapso. Se tomar juízo e relacionar-se de modo amigável e harmônico com o ambiente e o planeta, a mãe terra, poderá ter um futuro promissor. Nesse contexto é que se inserem as riquezas da Índia para a evolução humana. Riquezas de um povo não são apenas econômicas, financeiras, materiais, mas também e principalmente as riquezas imateriais e intangíveis que criou e codificou, com as quais se guia na sua passagem pela terra. São riquezas filosóficas, de pensamentos e ideias, de práticas e cuidados com a saúde pessoal e ambiental. A Índia foi uma das duas grandes civilizações (a outra é a chinesa) que duraram mais de 4000 anos. Teve uma grande capacidade de resiliências, de responder positivamente às sucessivas ondas de invasões que sofreu em sua história. Desenvolveu um espírito de tolerância para com as diferenças, anfitrionando numerosos hospedes que se instalaram no fértil subcontinente indiano. Cultivou a unidade na diversidade, a consciência da unidade humana e dali brotaram diversas tradições sapienciais e espirituais. Para promover a coexistência pacifica entre esses diversos grupos, formulou e colocou em pratica o princípio da não violência, ou ahimsa, aplicado por Gandhi para alcançar pacificamente a independência do país em 1947. A psicologia indiana é muito sofisticada e o vocabulário de psicologia em sânscrito é muito mais rico do quer aquele em grego ou em inglês, permitindo descrever estados de consciência de modo mais acurado. A cosmovisão indiana é abrangente e ampla e sua cosmologia e mitos perduram por milênios. Sua concepção do que é o ser humano, com sua materialidade, suas emoções, sentimentos, intelecto, a sua valorização do amplo espectro da consciência, do infra ao ultra consciente, são riquezas imateriais valiosas num mundo em conflito, limitado em seus recursos naturais.  Por meio do Yoga consegue-se sintonizar um estado de consciência mais lúcido e a meditação ajuda a compreender de modo mais abrangente o mundo e a si mesmo. O dharma é a missão ou tarefa que cada indivíduo ou povo tem a desempenhar em sua vida. Ele não opõe direitos e deveres, que são ideias ocidentais e a dharmacracia é um modo de governo que aplica o dharma. Uma visão mundialista na política faz transcender os nacionalismos e o auto interesse estreito, colocando em primeiro lugar a saúde da mãe terra. O grande símbolo da Índia é a flor de lótus, que se alimenta do esgoto e do lodo embaixo, mas também da luz do sol que vem de cima.
Sendo os dois maiores países tropicais do mundo, Brasil e Índia podem compartilhar muitos conhecimentos e o Brasil pode se beneficiar da sabedoria de sua irmã mais velha e experiente. A capacidade antropofágica de digerir as influências de fora, o jeitinho ou jugaad, o clima a ecologia tropical e o ambiente, a capacidade de criar e improvisar a partir de uma base material precária, a criatividade, alegria, espiritualidade e inteligência espiritual são fatores que aproximam esses dois povos” (Maurício Andrés é autor de "Ecologizar" e "Tesouros da Índia")


*Fotos  de Maurício Andrés e da internet

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terça-feira, 14 de abril de 2015


GUIGNARD – CIRCUITO ATELIER

A Editora C/Arte acaba de lançar seu mais recente livro do Circuito Atelier, desta vez dedicado ao mestre Guignard. O livro é pequeno, ilustrado com desenhos de sua autoria dedicados à Amalita, Anita e Lola, figuras femininas que lhe deram inspiração. O livro é todo uma canção de amor à vida e à arte, mostrando aspectos ainda não conhecidos da vida do grande pintor, educador e pensador que foi Guignard. Organizado com muito carinho por Marília Andrés e Jacqueline Prado, este livrinho é uma joia que nos permite ter acesso ao processo de criação do mestre, suas aspirações, suas ideias e, principalmente, seu amor a Minas Gerais e a Ouro Preto. Gosto de livros pequenos que nos permitem viajar com as ideias, levá-las para onde caminhamos. Os livros grandes ficam em casa, em cima da mesa e dificilmente conseguimos carregá-los. O livrinho de Guignard está me acompanhando para onde vou.
Ali está concentrado seu pensamento, suas aspirações e os depoimentos de artistas e críticos sobre sua vida e obra. Procuramos destacar algumas palavras do mestre, através de pensamentos que ele transmitia em seus depoimentos.
“Sou um apaixonado por Leonardo da Vinci, pintor e desenhista...” nos dizia ele.
Em suas aulas na Escola do Parque, na década de 40, em Belo Horizonte, Guignard colocava nas paredes da sala as estampas dos grandes mestres europeus tais como Da Vinci, Miguel Ângelo, Boticelli, Dürer. Anos depois, durante uma viagem à Florença, constatei nos desenhos de Boticelli, uma afinidade muito grande com os desenhos de Guignard.
 Sua orientação para observarmos a natureza antes de começarmos a desenhar, permitia uma educação do olhar e nos conduzia a um encontro com esses grandes mestres do passado.
Guignard sempre valorizou o desenho como forma indispensável para a realização de qualquer obra de arte.
Voltamos ao seu depoimento onde ele focaliza a educação do olhar através da observação da natureza.
“Há em todo individuo sinais de sensibilidade pela pintura. Não se manifesta, muitas vezes, tal sensibilidade, porque não foi convenientemente observada e aproveitada. Para que vamos à Escola? Não é para aprender a ler e escrever? Da mesma forma poderíamos todos aprender a desenhar. Esteja certo: uns determinados maus gostos que ainda existem nesse mundo, são o resultado da falta de educação mais apurada e enérgica no desenho. E essa educação consiste em apurar a acuidade dos nervos óticos. É um exercício longo, eu confesso, mas dá excelentes resultados”.
Como ex-aluna de Guignard tive a oportunidade de acompanhar o mestre nesses exercícios de atenção que muitas vezes se assemelham ao treinamento de um discípulo da meditação vinda do Oriente.
“Minhas exigências são três”, nos dizia Guignard: “Faço questão de que meus discípulos tenham esses atributos – disciplina, tenacidade e amor à arte, o resto vai bem pois o meu ensino consiste em demonstrações práticas tanto no desenho quanto na pintura. Porque – digamos a verdade – desenhar não é brincadeira. É uma arte muito séria e nela, só chegaremos a resultados, que podem ser ótimos, com uma grande força – na observação e na perseverança. Mas não se deve forçar o entusiasmo: ele nasce de si mesmo ou... não chega a nascer. Mas já entrei em contacto com a maioria dos meus futuros alunos mineiros, e estou confiante no êxito do meu curso. Tenho certeza de que, para coroar vitoriosamente os trabalhos deste ano, com resultados práticos, poderei fazer uma bela “mostra”. Vocês hão de ver-me trabalhar! O meu obstinado interesse pelo desenho chega, muitas vezes, a tal concentração visual e do espírito, que me esqueço de tudo mais...até do almoço.”
Este entusiasmo o Guignard conseguiu passar para seus alunos e aqueles que continuaram e desenvolveram seu próprio caminho receberam do mestre um entusiasmo pela arte que o tempo não conseguiu apagar.
Guignard gostava de pintar ouvindo música. Numa entrevista com Frederico Morais ele evidencia o seu gosto pela música:
“A música é mais divina e muito mais importante porque é como um pássaro, está no ar, em todo lugar. E sempre age assim. (...) a música é a verdadeira arte, a única que tem possibilidade de expansão. A pintura pertence a um público restrito, apenas àqueles que freqüentam as exposições.”
Segundo o comentário de Frederico, “quando Guignard ministrava na escola de Belas Artes de Belo Horizonte queria a todo custo que os alunos comprassem uma vitrola – e eles não tinham dinheiro nem para tinta- e queria discos para poder pintar e ensinar pintura. Achava que só poderia ensinar com música. Não foi atendido”.
Com todas as dificuldades enfrentadas por sua escola, Guignard conseguiu estimular seus alunos para considerar a música uma companheira inseparável da pintura.

Fotos do Acervo da Escola Guignard

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