segunda-feira, 21 de março de 2016

ARTE E LIBERDADE

Quadros não são feitos para combinar com tapetes e cortinas, nem para serem colocados como títulos na bolsa de valores do mercado de arte. A preocupação comercial leva o artista a concessões imperdoáveis, que fazem esquecer a razão de ser da arte como força vital de uma civilização, para colocá-la no plano de especulação comercial. O valor de um trabalho artístico, suas qualidades expressivas, não se limita a números e cifrões, mas alcança um lugar que lhes assegura realmente a permanência no tempo e a sua equiparação com as demais artes.

Assim como a música e a poesia, também o quadro que vemos numa exposição contém toda uma vida de lutas e experiências. Não se pode separar as inquietações da alma humana, seus momentos de sofrimento ou alegria, de violência ou de paz, de revolta ou de submissão daquela forma que espontânea e diretamente lhe sai das mãos.

A arte é a mais pura manifestação da liberdade, hoje tão limitada na mecanicidade do mundo moderno. Toda e qualquer forma de imposição, ao atingir o domínio da arte, impede-lhe o progresso e a conduz à mediocridade.

O sentido de liberdade é expresso com grande veemência por meio da arte, porque ela se fundamenta e nasce num clima no qual a opressão não tem lugar.
Pode-se proibir o homem de falar, mas nunca de sentir. A arte é a expressão do sentimento humano, desse sentimento tantas vezes bloqueado por  slogans  e rótulos, mas que desperta quando se desenvolve a capacidade de inventar, de renovar, de contatar a essência do próprio Ser. O verdadeiro humanismo brota das mãos dos artistas e da alma dos poetas, dos cineastas, dos escritores, dos músicos, que proclamam espontaneamente a compreensão entre os povos.

O humanismo autêntico tem suas raízes no sentimento, e não na razão.
O sentimento religioso está expresso nos trabalhos do escultor anônimo de Chartres, na serenidade dos budas, na música de Bach, nas telas de El Greco e de Rembrant. Sentimentos de revolta levaram Goya a se expressar de modo violento, rompendo o cerco da Inquisição. Sentimentos de lirismo e poesia levaram Guignard a se expressar com  a pureza das crianças, no encantamento mágico de suas noites de São João. A arte é a expressão mais direta do sentimento humano que não se fecha em si mesmo, mas se irradia e participa da realidade do mundo. Esse sentimento só pode manifestar-se quando não existe imposição externa, quando o passado estético é esquecido em benefício da vivência do presente. A experiência do passado que gerou determinada ideia não pode ser vivida repetidas vezes. O passado é memória, e a criatividade está sempre no presente.

A preocupação do artista em repetir o êxito conduz à estagnação e à ausência do sentimento em arte. Sentimentos não se repetem com facilidade.
Pertencem a um momento único, a um clima no qual se unem fatores, objetivos e subjetivos, a um instante que pertence não somente ao artista, mas ao momento histórico em que ele vive. Tal instante, vivido espontaneamente, criará determinada forma, testemunha de um momento de vida. . (Trecho do livro “Os Caminhos da Arte”, editora C/ARTE, 2015)

*Fotos da internet


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