segunda-feira, 25 de julho de 2016


ARTE NAS RUAS I

 Durante o governo militar no Brasil, grupos de artistas ligaram-se a uma política radical de denúncia, considerando a arte a forma mais direta de manifestação de suas ideias. No final dos anos 60 observou-se a radicalização política dos artistas, críticos e intelectuais brasileiros, em face do recrudescimento da repressão instaurada pelo AI-5. A perseguição política a artistas e intelectuais de esquerda, que resultou no exílio e na aposentadoria compulsória de muitos profissionais e no cancelamento de várias exposições coletivas, foi acompanhada de vários manifestos de repúdio às ações repressivas do governo militar.

Na década de 1960 o happening tornou-se uma das grandes formas de desafio popular. Nas ruas, grupos promoviam o espetáculo, que não se limitava à encenação dentro de um recinto fechado. Misturavam-se com o povo, criavam situações, agrediam. A experiência englobava, em seu contexto, teatro, artes plásticas, música, dança. A finalidade principal do happening era a conscientização dos problemas do século: guerra, destruição, violência; desafiar o transeunte a uma reflexão, tirá-lo da passividade. No happening o espectador era também ator e, de acordo com suas reações, as cenas se modificavam. O objetivo era vivenciar a experiência criadora em sua totalidade, provocar reações por meio do choque, do escândalo, do ridículo, do poético.

Os artistas abandonavam a reclusão dos ateliês fechados, guardavam as telas e adotavam como campo de ação as praias, as estradas, as ruas cheias de transeuntes. Buscavam uma arte desmaterializada, que não podia ser guardada em museus nem adquirida por colecionadores.

“Nosso primeiro objetivo é transformar em poesia a linguagem que a sociedade de exploração reduziu ao comércio e ao absurdo.” Essas palavras de Jean Jacques Lebel, autor de vários happenings em Paris, definem a posição daqueles artistas rebeldes, inconformados com a comercialização e a exploração da arte. Na década de 1960 os happenings levantaram polêmicas em vários países do mundo. No Brasil, artistas e críticos se uniram contra a repressão militar organizando happenings nas ruas, em sinal de protesto. Havia uma necessidade de conscientizar a população do que se passava por detrás das prisões, e a forma encontrada para isso foram os happenings, realizados em espaços públicos, quase sempre perseguidos pelos militares.

*Fotos da internet

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quinta-feira, 14 de julho de 2016


EXPOSIÇÃO “ARTE E POLÍTICA”

Foi um trabalho de muitos dias, muitas horas, nos porões do Museu de Arte da Pampulha (MAP), onde estão as obras dos artistas que mereceram prêmios ou doaram quadros para o acervo. Depois de escolhidos de acordo com o tema – Arte e Política – os quadros ou vídeos (naquele tempo eram chamados de audio-visuais) foram organizados para a exposição do Sesc Palladium e poderão ser vistos até o dia 30 de julho.

A proposta reúne artistas que se utilizaram espontaneamente de sua energia criadora para denunciar os erros da nossa sociedade, as injustiças, as torturas, as prisões por motivos ideológicos, as reivindicações sociais, as guerras, os crimes contra a natureza humana.

Não existe doutrinação, mas a evidência está explícita nas obras e na sinceridade com que foram criadas. A arte, como testemunho da sociedade se revela como uma porta voz dos oprimidos, como uma denúncia que se perpetua no tempo.
Vejamos agora a exposição Arte e Política, quase um documento da década de 1960, quando sofremos a ditadura militar no Brasil.

Os artistas que viveram aqueles anos de chumbo se manifestaram através de suas obras, de forma não verbal. Viveram uma época que não se podia bater palmas para quem estivesse fazendo um discurso contra o governo.

Hoje, felizmente os tempos mudaram. Estamos em 2016, na Galeria de Arte do SESC Palladium, na exposição organizada por Marília Andrés Ribeiro com a colaboração de Ana Luiza Neves e as equipes do MAP e SESC. Ali estão expostas as reivindicações de artistas que viveram épocas tumultuadas e deram a sua mensagem.

Ali estão os meus colegas Jarbas Juarez, Terezinha Soares, Beatriz Dantas, José Alberto Nemer, Marisa Trancoso, Julio Espindola dentre outros, cada um representando uma mensagem pessoal, uma conscientização do momento político.
Fui convidada a participar deste grupo com um trabalho da minha fase de guerra, intitulado Radioative Ship, uma denúncia à guerra atômica. Na década de 1960 estive nos EUA em viagem de estudos.

Foi por ocasião da guerra fria quando o medo de um ataque atômico pairava no ar. Abrindo a gaveta de um armário do Hotel onde estava hospedada em São Francisco encontrei um panfleto alertando sobre as providencias a serem tomadas no caso de um eventual ataque atômico.
“Quando as sirenes da defesa civil tocarem, aqui está oque você deve fazer: 1º alerta - Um som ininterrupto de sirene. Você terá tempo de fugir levando apenas um pequeno radio de pilha. Seguir as instruções.
2º alerta – Ataque imediato, não sair de casa, deitar de bruços no chão e esperar o estrondo longe das janelas. Depois de meia hora, se ainda estiver vivo, poderá sair em busca dos parentes, mas quando voltar terá que tomar um banho de chuveiro e mudar as roupas para se livrar da radiotividade.
3º alerta - È preciso lembrar que, em caso de terremoto, os avisos serão diferentes.”
Estes alertas me horrorizaram. Um mês depois, já as vésperas de regressar ao Brasil, um novo aviso, desta vez com a população correndo para os metrôs. Senti o impacto do drama dos japoneses em Hiroshima e Nagasaki. A destruição atômica é o grande drama da humanidade.

Regressando ao Brasil, voltei para o meu ateliê em Belo Horizonte e a minha pintura sofreu grande mudança. A obra Radioactive Ship é um documento trágico da época. Realizada com uma técnica de acrílica e colagem sobre cartão, usando pedaços de isopor molhado na tinta para permitir que a energia fluísse com mais intensidade, essa obra marcou o início de uma nova série, denominada Série de Guerra.
Trabalhei nesse quadro e em vários outros com a mesma intensidade e o mesmo propósito interno de denunciar a guerra fria e também as torturas e a violência que estavam acontecendo no Brasil durante a ditadura militar.

*Fotos de arquivo

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segunda-feira, 4 de julho de 2016


REFLEXÕES SOBRE A GUERRA E A PAZ

O  vento agita a legião de bandeiras em frente ao edifício das Nações Unidas, onde são discutidos os problemas do mundo. Nos grandes salões da ONU, alguns homens debatem os problemas da humanidade. Distribuem responsabilidades, marcam fronteiras, determinam os direitos humanos. 
Representantes de todos os países ali se reúnem, defendendo cada um os interesses de seu povo. Traçam-se os destinos do mundo. Através de filmes, projeções, teipes, painéis fotográficos, publicações, telas, o visitante toma conhecimento de todas as misérias que afligem a Terra: a pobreza, as injustiças, a fome, as doenças, as guerras.

Sente-se o sofrimento do nosso planeta, suas lutas e conquistas, seu progresso e também o quanto de sacrifício e dores este progresso exige. A paz é reivindicada através de acordos, discursos, polêmicas, no grande tribunal das Nações Unidas.

Naquela casa, que recolhe os problemas mais angustiantes da humanidade, a sala de meditação é o momento de silêncio.  Oferece-nos, sob outra forma, a paz que se pretende alcançar e que é objeto de intermináveis reuniões. E ela não é discutida em voz alta, nem assinada em atas. A sala é tão pequena que não se permite a entrada de muita gente. Não se fala nem se escuta, sente-se o silêncio. Uma estranha emoção nos invade quando penetramos nesse ambiente escuro, desabitado, onde as coisas são percebidas devagarinho, à medida que nos costumamos com a penumbra. As sombras não nos deixam perceber de uma só vez as cores do painel abstrato ao fundo. Uma pedra retangular no centro da sala convida à introspecção. Um raio luminoso projeta-se sobre ele, vindo de um pequeno orifício no teto. Aquela luz de paz, vinda do alto, tem a pureza de uma revelação. É como se essa luminosidade, penetrando pela fresta, atingisse nossa percepção, fazendo-nos refletir sobre nós mesmos, o significado da vida, nossa condição na Terra e o silêncio que virá depois. Abre-nos para o absoluto. 

Por que tanta luta e violência, tanta crueldade e ambição? O futuro de todo homem é encontrar um dia o silêncio e a eternidade. No edifício das Nações Unidas de Nova York, a sala de meditação é o encontro com a paz interior.

*Fotos da internet


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