quinta-feira, 14 de julho de 2016

EXPOSIÇÃO “ARTE E POLÍTICA”

Foi um trabalho de muitos dias, muitas horas, nos porões do Museu de Arte da Pampulha (MAP), onde estão as obras dos artistas que mereceram prêmios ou doaram quadros para o acervo. Depois de escolhidos de acordo com o tema – Arte e Política – os quadros ou vídeos (naquele tempo eram chamados de audio-visuais) foram organizados para a exposição do Sesc Palladium e poderão ser vistos até o dia 30 de julho.

A proposta reúne artistas que se utilizaram espontaneamente de sua energia criadora para denunciar os erros da nossa sociedade, as injustiças, as torturas, as prisões por motivos ideológicos, as reivindicações sociais, as guerras, os crimes contra a natureza humana.

Não existe doutrinação, mas a evidência está explícita nas obras e na sinceridade com que foram criadas. A arte, como testemunho da sociedade se revela como uma porta voz dos oprimidos, como uma denúncia que se perpetua no tempo.
Vejamos agora a exposição Arte e Política, quase um documento da década de 1960, quando sofremos a ditadura militar no Brasil.

Os artistas que viveram aqueles anos de chumbo se manifestaram através de suas obras, de forma não verbal. Viveram uma época que não se podia bater palmas para quem estivesse fazendo um discurso contra o governo.

Hoje, felizmente os tempos mudaram. Estamos em 2016, na Galeria de Arte do SESC Palladium, na exposição organizada por Marília Andrés Ribeiro com a colaboração de Ana Luiza Neves e as equipes do MAP e SESC. Ali estão expostas as reivindicações de artistas que viveram épocas tumultuadas e deram a sua mensagem.

Ali estão os meus colegas Jarbas Juarez, Terezinha Soares, Beatriz Dantas, José Alberto Nemer, Marisa Trancoso, Julio Espindola dentre outros, cada um representando uma mensagem pessoal, uma conscientização do momento político.
Fui convidada a participar deste grupo com um trabalho da minha fase de guerra, intitulado Radioative Ship, uma denúncia à guerra atômica. Na década de 1960 estive nos EUA em viagem de estudos.

Foi por ocasião da guerra fria quando o medo de um ataque atômico pairava no ar. Abrindo a gaveta de um armário do Hotel onde estava hospedada em São Francisco encontrei um panfleto alertando sobre as providencias a serem tomadas no caso de um eventual ataque atômico.
“Quando as sirenes da defesa civil tocarem, aqui está oque você deve fazer: 1º alerta - Um som ininterrupto de sirene. Você terá tempo de fugir levando apenas um pequeno radio de pilha. Seguir as instruções.
2º alerta – Ataque imediato, não sair de casa, deitar de bruços no chão e esperar o estrondo longe das janelas. Depois de meia hora, se ainda estiver vivo, poderá sair em busca dos parentes, mas quando voltar terá que tomar um banho de chuveiro e mudar as roupas para se livrar da radiotividade.
3º alerta - È preciso lembrar que, em caso de terremoto, os avisos serão diferentes.”
Estes alertas me horrorizaram. Um mês depois, já as vésperas de regressar ao Brasil, um novo aviso, desta vez com a população correndo para os metrôs. Senti o impacto do drama dos japoneses em Hiroshima e Nagasaki. A destruição atômica é o grande drama da humanidade.

Regressando ao Brasil, voltei para o meu ateliê em Belo Horizonte e a minha pintura sofreu grande mudança. A obra Radioactive Ship é um documento trágico da época. Realizada com uma técnica de acrílica e colagem sobre cartão, usando pedaços de isopor molhado na tinta para permitir que a energia fluísse com mais intensidade, essa obra marcou o início de uma nova série, denominada Série de Guerra.
Trabalhei nesse quadro e em vários outros com a mesma intensidade e o mesmo propósito interno de denunciar a guerra fria e também as torturas e a violência que estavam acontecendo no Brasil durante a ditadura militar.

*Fotos de arquivo

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