segunda-feira, 28 de novembro de 2016


PAULO LAENDER, UMA TRAJETÓRIA


 Estou na Galeria de Arte do Minas Tênis Clube, percorrendo uma exposição de Paulo Laender. Ele mostra sua trajetória na arte, desde a sua primeira exposição no Minas Tênis Clube, a convite de Palhano Junior. Na ocasião ele mostrou desenhos de 1963. No catálogo desta mostra coletiva  estão : Paulo Frade Laender, Luiz Antonio Lanza e Antonio Eugênio de Salles Coelho. Para esses três artistas, a vida foi mostrando caminhos diferentes.

Paulo Laender viveu etapas diversas de sua arte, sempre conservando uma ligação de uma fase com a outra.

Talvez poderíamos dizer: crescimento orgânico, como uma árvore que vai conservando as características de sua espécie e vai crescendo, tomando formas variadas mas sempre ligadas umas com as outras, com uma coerência impressionante. Exemplo de Unidade na Diversidade. Isto porque na diversidade de materiais, gravuras em metal, desenhos, pinturas, esculturas, há sempre uma unidade que caracteriza o artista.

Paulo Laender foi meu aluno, e desde os desenhos dos primeiros barcos, já demonstrava a sua escolha pelas formas curvas. Há também uma característica que nos mostra a busca dessas formas curvas. Os barcos de 1963 nos mostram o jovem talento despertando para uma viagem ao desconhecido.  O barco simboliza viagem e Paulo Laender viajou, percorreu o mundo, mas agora em seu atelier de Nova Lima, continua a grande viagem pelos caminhos da arte. O perfeccionismo de suas obras é fascinante e a sensualidade de suas formas nos lembra os grandes mestres do barroco mineiro. Os portugueses trouxeram para nós o barroco e, em terras brasileiras, produziram suas melhores obras que até hoje estão nas igrejas de Ouro Preto, Tiradentes, São João Del Rey e Sabará.

Paulo retoma o barroco em seu espírito, transcendendo a forma e elevando-a a um plano de grande contemporaneidade.
Ele é um artista barroco e contemporâneo, está presente no seu tempo, corajosamente enfrentando as dificuldades que a arte nos impõe. Em suas esculturas, inspiradas em andanças pela Índia, admiramos a figura de Ganesh, aquele que abre os caminhos. Sem reproduzir a figura de Ganesh, ele nos mostra o seu espírito e a sua atitude resoluta e firme.

Voltando ao Brasil, encontramos o escultor trabalhando na forma de  barcos. Grandes troncos de árvores são esculpidos lembrando a forma dos nossos barcos indígenas e dos barqueiros do São Francisco.
Agora, o barco não é mais desenhado, mas esculpido na madeira laminada, colada e cavilhada, característica muito especial de seu estilo como escultor. Paulo desce às nossas origens, rebusca seus antepassados indígenas e os artistas e artesãos que construíram o patrimônio artístico de Minas Gerais.

Ser universal e ao mesmo tempo regional é a grande lição que este artista mineiro está dando para as gerações futuras.

Paulo Laender é um artista consciente, maduro. Não busca modismos nem influências externas, mas é dentro dele mesmo, em seu interior que ele vai buscar motivações para o seu trabalho.

Esta busca interior às vezes é também figurada em esculturas ou objetos, onde outras formas menores estão colocadas mostrando o mundo externo e o mundo interno que continua existindo em toda a natureza e na criação.

*Fotos de Eliana Andrés

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segunda-feira, 21 de novembro de 2016


ABSTRACIONISMO E ESPIRITUALIDADE III

Vários artistas ocidentais têm buscado expressar a instantaneidade do momento criador, captando alguns dos mais característicos símbolos orientais. Na intensidade emocional do gesto, aproximam-se da escrita chinesa e, procurando o depuramento da forma, muitas vezes trazem à luz formas semelhantes às mandalas tântricas. O Abstracionismo, portanto, seja em seu aspecto informal, seja em seu aspecto geométrico, constitui uma aproximação do Oriente com o Ocidente.

Essa busca de valorização do momento presente, da instantaneidade da criação, introduziu-se na arte do Ocidente por intermédio de Mathieu, na França, e da Action Painting , nos EUA. Mathieu declara na  Analogia da Não Figuração :

"A atividade do artista, paralela à do sábio e à do santo, comunica-se com todas as forças vivas do cosmos e aproxima-se do pensamento científico moderno, no qual os meios de apreensão do universo já não são fornecidos só pela razão e pelos sentidos."

Proclamando a necessidade do artista de realizar a síntese da arte e vida, Mathieu buscou conhecer o mundo fazendo  viagens e procurou o encontro consigo mesmo nas meditações. Seus quadros, realizados na maior velocidade para apreenderem o mais rápido possível a essência criadora, assemelham-se à caligrafia oriental.

Nos EUA, Jackson Pollock, Mark Tobey, Franz Kline, Theodorus Stamus, James Brooks, William de Kooning, Gottlieb e outros iniciaram o movimento da  Action Painting , que enfatizou intensamente a pintura gestual e o automatismo psíquico. O método de Pollock foi o de entrar no processo criador, submergindo na pintura como o calígrafo chinês, a fim de transmitir a energia  Ch’i. Seus quadros, de um intenso grafismo, assemelham-se à escrita do Extremo Oriente e o seu modo de pintar lembra o dos índios navajos, que vertiam areia colorida no solo, a fim de marcar seus talismãs.

Mark Tobey, influenciado pela filosofia  Zen, usou como suporte quadros menores e tintas que permitiam rápida secagem, para conseguir, no ato de pintar, a simultaneidade da ideia e da realização.

A arte abstrata possibilita uma comunicação direta com as forças mais profundas do ser humano. Neste encontro consigo mesmo, pode-se descobrir a fonte comum que dá origem a outras formas de arte, como a dança e a música.
Vivenciar o ritmo na arte é também descobrir o ritmo de nossa própria vida. (Caminhos da Arte, 3° Edição, Editora C/ARTE)

*Fotos da internet

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segunda-feira, 14 de novembro de 2016


ABSTRACIONISMO E ESPIRITUALIDADE II

É entre os adeptos do Abstracionismo que encontraremos os depoimentos mais importantes sobre a arte como transformadora do homem.

Testemunhos de artistas deixam transparecer a mesma ideia religiosa de encontro com a essência do Ser. Vejamos os depoimentos de Alfred Manessier, conhecido pintor e artesão abstrato:

“A criação artística supõe (...) duas condições. Primeiro, não dizer “eu quero”, porque a exteriorização dos estados interiores exige uma espécie de abandono de si mesmo; em seguida, muito amor: só ele permite “levar” o assunto até ao seu termo, até que ele se humanize a ponto de ganhar um valor geral.
A arte da não figuração parece-me ser a possibilidade atual pela qual o pintor melhor pode subir até à sua realidade e retomar consciência do que é essencial em si. É só a partir deste ponto reconquistado que ele poderá, depois, reencontrar o seu peso e revitalizar até a realidade exterior do mundo (...). Se o homem é uma hierarquia de valores, sua aparência exterior não é mais que um fantasma transparente, se estiver vazio de conteúdo espiritual.”

Este “abandono de si mesmo”, de que nos fala Manessier, é a receptividade diante do desconhecido e o caminho para a espontaneidade criadora, destituída de qualquer premeditação. A fim de exteriorizar puros estados interiores, torna-se absolutamente necessário o vazio de intenções. O ato de pintar, dentro desta atitude, é a tomada de consciência do essencial. O Abstracionismo, tanto no seu aspecto geométrico quanto no informal, partiu para a conscientização da síntese das artes germinadas no próprio processo criador.

Cores e sons, gestos e dança encontram-se dentro do ato criador.

Penso que há uma fonte comum entre o pintor e o bailarino, uma certa maneira de viver os ritmos. O pintor é como um bailarino que reduz a dança aos seus aspectos mais essenciais.

Para mim, o quadro não pode ser o resultado de uma ideia preconcebida. A parte de aventura é nele muito importante e, é, de resto, essa parte de aventura que é finalmente decisiva na criação. No começo há um ritmo que tende a desenvolver--se: é a percepção desse ritmo que é fundamental, e do seu desenvolvimento depende a qualidade viva da obra.

As artes plásticas vêm assimilando, desde meados do século XIX, o processo de síntese Oriente-Ocidente. A influência oriental manifestou-se com nitidez na arte de Gauguin e Van Gogh, nos arabescos do Art Nouveau  e, mais tarde, nos símbolos de Kandinsky, o primeiro artista abstrato. A filosofia Zen-budista, incentivando a espontaneidade, encontrou os artistas ocidentais preparados para recebê-la.

 O Abstracionismo Informal, que se espalhou pelo mundo a partir da segunda metade do século XX, despertou a espontaneidade e a instantaneidade na arte. Deu-se ênfase ao movimento e à rapidez. O artista, desligando-se de fatos históricos e narrativos, afastando-se de modelos e cenas de sua região, buscava um contato consigo mesmo. Esvaziando a mente de medidas e cálculos, deixava--se guiar pelo gesto imediato, podendo assim alcançar o estado denominado pelos zen-budistas  de  Satori. 
(Caminhos da Arte, 3° Edição, Editora C/ARTE)

*Fotos da internet

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quinta-feira, 10 de novembro de 2016


ALEXANDRE ANDRÉS, UM GIRO PELA ESPANHA, PORTUGAL E BRASIL

A praça Floriano Peixoto em BH, é um lugar privilegiado para a música. Estou assistindo a um som maravilhoso à convite de meu neto Alexandre Andrés. Desci do Retiro das Pedras, onde estava, fugindo da turbulência da cidade. Pretendia ali ficar sábado e domingo como de costume, mas o convite de Alexandre me conduziu. As redes sociais anunciavam este show, abertura do Trio Corrente, e a voz do Alexandre era, como sempre, um caminho para o sonho.

Alexandre acabou de chegar da Europa, onde participou com outro grupo musical, de várias apresentações na Espanha e Portugal.

Os músicos hoje em dia estão sempre viajando, distribuindo seus sons para países diferentes.

Recebi, via internet, as fotos do lugar onde ele, junto a Rafael Martini e Marcos Braccini, se apresentou. Tocaram por diversos palcos de cidades e vilarejos centenários, pelo coração da Catalunya.

A música não tem fronteiras, e os brasileiros na Espanha foram como os antigos trovadores, levando a sua mensagem de paz por onde passaram.

Em Portugal o grupo se apresentou em Lisboa, em um Centro Cultural, uma antiga fábrica de armamentos chamada ‘Fábrica Braço de Prata’ e também em um café importante de Alfama, chamado ‘Duetos da Sé’. Pelo caminho os músicos não só apresentaram seus trabalhos, mas fizeram muitos amigos. Nada melhor para unir os países, como as apresentações de arte.

O recado foi dado e, apesar do tempo muito curto, tenho certeza que a semente foi plantada.

A música é a arte do tempo e os sons desses jovens brasileiros ficarão perpetuados e difundidos por onde passarem.

Paro com as minhas reflexões para ver e ouvir os músicos que estão surgindo dentro de uma nuvem colorida.

Hoje em dia esses efeitos vão nos conduzindo a uma visão de sonho e poesia.
A flauta mágica de Alexandre nos leva para novos espaços.

Já não é nem Espanha nem Portugal, estou no Brasil, em Minas Gerais, sentada numa praça ouvindo meu neto tocar.
O grupo formado por Alexandre e seus parceiros, Gabriel Bruce, Bruno Vellozo e Davi Fonseca, é um convite à união e paz.

De repente Alexandre presta homenagem à Marco Antônio Guimarães e recorda outro grupo de músicos famosos. Escuto na praça o meu neto exclamar: “Viva o UAKTI!”

*Fotos de arquivo


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terça-feira, 1 de novembro de 2016


AUROVILLE

Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto sobre Auroville, que dá continuidade às postagens anteriores
       
“A origem de Auroville remonta a 1955, quando surgiu a idéia de construir uma cidade internacional voltada para o novo homem da nova era.  Reconhecida em 1966 pela Assembléia Geral da Unesco como cidade dedicada ao entendimento entre os povos e à paz, Auroville foi inaugurada com a presença de cinco mil pessoas de todo o mundo. Criada em 1968, Auroville se situa nas proximidades da baía de Bengala, a 10 km de Pondicherry, em meio a amplas áreas verdes.
Na cerimônia de sua fundação, vários países enviaram, como ato simbólico, um pouco da terra de seu solo, que foi depositada em um monumento erguido no centro da cidade. Durante a cerimônia, o diretor-geral da Unesco, Dr. M.S. Adiseshiah, pronunciou as seguintes palavras:

Em nome da Unesco, em nome de todos vocês presentes e não presentes aqui, eu exalto Auroville, sua concepção e realização, como uma esperança para todos nós e particularmente para nossas crianças, para nossa juventude que está desiludida com o mundo que construímos para ela, e que encontrarão em Auroville um símbolo vivo, inspirando-se a viver a vida para a qual são chamados.

Nos anos 70, tiveram início os primeiros assentamentos. Desenvolveu-se um bem-sucedido projeto de reflorestamento, com um milhão de mudas, para conter a erosão que se agravava com as monções. Foram construídas casas com estruturas simples, adequadas tanto para o calor do verão, como para a estação chuvosa das monções. Foram implantados e experimentados sistemas de energia alternativa – energia solar e biogás.

A planta urbanística foi planejada por uma equipe internacional. Em forma de espiral, simboliza a evolução humana e prevê capacidade para abrigar 50 mil pessoas voltadas para a pesquisa e a experimentação, em educação permanente.

No centro da espiral está uma grande esfera de concreto, construída pelos próprios aurovillianos: o Matrimandir, templo considerado a alma, a “força coesiva de Auroville", "o símbolo vivo da aspiração de Auroville para o Divino".[1] No centro do Matrimandir, há uma câmara com doze paredes de mármore branco, utilizada para meditação. O detalhe arquitetônico mais importante fica no meio da câmara: um globo de cristal de 70 cm de diâmetro, feito pela Zeiss, na Alemanha.

Hoje, vivem e trabalham em Auroville pessoas de dezenas de países. Esse fluxo migratório suscitou inicialmente problemas de integração com a população que vivia no local e nas proximidades. A chegada de forasteiros com valores culturais diferentes transformou o contexto social. Entretanto, com o passar do tempo, a situação foi se harmonizando, e os habitantes das aldeias vizinhas passaram a se inserir no projeto de variadas formas: alguns começaram a trabalhar nos setores de reflorestamento, artesanato e na produção de alimentos; outros vieram estudar nas escolas e centros de treinamento.

Auroville contou com recursos do governo da Índia, doações de indivíduos e de organizações internacionais para sua fundação e manutenção.

A Carta de Auroville afirma que ela pertence à humanidade como um todo: uma cidade planetária para a criação e a propagação do entendimento e da paz. Outros trechos da Carta dizem: "Para viver em Auroville, deve-se desejar servir à consciência perfeita."; "Auroville será o lugar de uma educação sem fim, de progresso constante, e de uma juventude que nunca envelhece. Auroville quer ser a ponte entre o passado e o futuro. Incorporando todas as descobertas de fora e de dentro, Auroville florescerá audaciosamente em direção a realizações futuras."; "Auroville será o sítio de pesquisa material e espiritual, para a vivência concreta de uma unidade humana real.".Auroville é uma cidade-escola aberta. Propõe-se a ser um local de paz, harmonia e concórdia, com base na idéia de que a espécie humana não é o último passo da evolução. Auroville é, assim, uma "cidade experimental", "um laboratório da consciência, um lugar onde se tentam novas maneiras de os homens viverem em comunidade"[2]. Ela ajuda a preparar a humanidade para os passos seguintes de sua evolução, inspirada pelas ideias de Sri Aurobindo, o grande sábio indiano.”

(Maurício Andrés Ribeiro é autor de “Tesouros da Índia para a civilização sustentável”, Editora Rona e Santa Rosa Bureau Cultural, 2003.)

*Fotos da internet

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[1] Carta de Auroville. Cf. site www.auroville.org.
[2] Carta de Auroville. Cf. site www.auroville.org.