segunda-feira, 15 de maio de 2017



YOGA E ARTE II

Dando continuidade ao tema Yoga e Arte, segue o texto abaixo extraído do meu livro “Os Caminhos da Arte”:

Swami Vivekananda nos diz: “Que é a beleza num rosto humano, no céu, nas estrelas e na lua? É apenas a apreensão particular da real, envolvente Beleza Divina.” “Tomai esta alta posição  Bhakti, que nos faz esquecer imediatamente nossas pequenas personalidades.”

Tomemos estas palavras a respeito de  Bhakti Yoga para trazê-las, como analogia, ao campo da arte. Que é a arte senão a busca desta Beleza Suprema? Ela pode se revestir de várias formas, mas a sua linguagem direta é a procura da beleza que existe em estado latente dentro de cada ser humano. O artista é constantemente atraído a buscá-la. “Um dos nomes do Senhor em Sânscrito é Hari , que significa que Ele atrai todas as coisas para si.”

 “O Senhor é o grande ímã, e somos todos como limalhas de ferro; estamos sendo sempre atraídos por Ele, e todos lutamos por alcançá-lo.”

Swami Vivekananda nos mostra a atração para o Absoluto que todo ser humano tem. Trazendo-a para o campo da arte, veremos como o homem, através dos tempos, entregou-se apaixonada e totalmente à busca de um dos atributos de Deus, que é a beleza. Para a conquista desta beleza, o artista deixa-se entregar inteiramente ao seu trabalho, apesar das lutas que muitas vezes enfrenta. O que dirige, impulsiona e conduz a arte ao crescimento interior é, antes de tudo, o amor desinteressado, a entrega total ao trabalho, independentemente de sucesso ou fracasso, como no Karma Yoga. A atitude característica de um  yogue é a disponibilidade diante das circunstâncias externas. Ele se põe apenas como instrumento a trabalhar sem visar a resultados materiais. Diz a Bhagavad Gita: “Se não nos apegarmos ao trabalho que fazemos, ele não terá qualquer efeito aprisionador sobre nossa alma.”

O yogue procura se desapegar de lucro e fama, porque sabe que o trabalho egoístico o aprisiona, e um  yogue deseja, antes de tudo, Libertação.
(Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, editora C/ARTE, 2015)

Fotos  de Julio Margarida e da internet

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terça-feira, 9 de maio de 2017


YOGA E ARTE I


Somente na medida em que o Yoga  deixa de ser apenas disciplina e a arte deixa de ser profissão é que podemos entender mais claramente a unidade de ambas como formas de autorrealização.

“O que experimentamos no fundo de nossa alma é a realização.” Estas palavras de Swami Vivekananda sobre a experiência direta nos fazem refletir sobre o caminho da arte. O exercício da arte, feito com amor desapegado, conduz à realização intuitiva da Verdade. Estudaremos as semelhanças entre arte e Yoga  em seus quatro  margas, ou caminhos individuais de aperfeiçoamento.

O  Yoga  oferece aos seus adeptos quatro caminhos fundamentais, que podem conduzi-los ao estado de Libertação:  Raja Yoga, Bhakti Yoga, Karma Yoga e Jñana Yoga. Estes correspondem respectivamente à união com o Supremo por meio do domínio sobre a própria mente, do amor e devoção, da ação e do conhecimento.

O intuito do Yoga  não é afirmar a Verdade, mas conduzir o adepto, através da experiência, à conscientização da Verdade imanente em si mesmo e em toda a natureza. Poderíamos dizer, em nossas reflexões sobre arte e yoga , que a arte, em sua trajetória de aprendizado de vida, muitas vezes se aproxima do aprendizado de um  yogue. O treinamento de um yogue dentro de Raja Yoga ou disciplina mental assemelha-se ao treinamento paciente pelo qual terá que passar um artista, desenvolvendo sua capacidade de observação, concentração e atenção na busca de ampliar, cada vez mais, a sua percepção do mundo.

Conjugar o movimento da alma ao movimento da mão, suprimir o su-perfluo para melhor sugerir, intensificar, abrandar o traço; levá-lo como a música de maior intensidade de vibração ao pianíssimo, que apenas se pressente, é a finalidade à qual se dirige o estudante de arte em seus primeiros esboços.

Essa síntese de nossas faculdades de concentração e percepção nem sempre é conseguida no princípio, quando todas as experiências ainda se escondem sob o arcabouço fechado dos preconceitos e das inibições. Somente o exercício constante e o amor ao trabalho poderão vencer as barreiras que se erguem diante de um aluno iniciante e indeciso. Essa entrega total, esse amor ao trabalho pode ser comparado ao caminho Bhakti.(Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, editora C/ARTE, 2015)

Fotos de Maurício Andrés e da internet

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segunda-feira, 1 de maio de 2017


ESCAMBOS

Quando nos desligamos dos incentivos, ganhamos outras dimensões.
Os artistas de Minas Gerais afastados dos grandes centros por cadeias de montanhas estão sobrevivendo quase heroicamente. Formam uma resistência que começou há séculos e continua viva até os dias de hoje.

Estamos isolados, mas em compensação, temos o silêncio necessário à criação. Participar de tudo à distância, enxergar o mundo e permanecer ao mesmo tempo no recolhimento de si mesmo, é uma dádiva de Deus.

Estou presente no aqui e agora, estou presente no mundo sem me atordoar com os ruídos ensurdecedores de “muitas cidades, homens e coisas”, como dizia Rainer Maria Rilke em seu livro “Cartas a um jovem poeta”. É preciso conhecer as cidades, o mundo lá fora, mas também perceber “o voo dos pássaros e o gesto das flores que se abrem nas madrugadas”
Enquanto escrevo, vou lembrando o livro que foi para mim fundamental, “Cartas a um jovem poeta”.
À proporção que o tempo vai passando, vou compreendendo melhor as palavras de Rilke.

Coloquei este texto no meu primeiro livro “Vivência e Arte” e, não sei porque, ele está me surgindo no momento.
Enquanto escrevo vou observando o meu entorno, as flores que caíram de uma árvore em frente à minha casa.

“Pise a grama”, nos diz Roberto, meu neto. Estou pisando a grama e refletindo. Pisar a grama é necessário para qualquer um – descarrega emoções negativas e nos possibilita um contato direto com a Mãe Terra. Sim, somos filhos da Terra, mas muitas vezes procuramos o asfalto.

Voltar para a Terra é importante, ela nos reabastece, nos alimenta.

Estar na cidade constantemente é um sufoco. Enquanto escrevo, conservo um jornal no banco ao meu lado. Ele me traz notícias do mundo e eu pertenço ao mundo também, faço parte dele, sou parte integrante de uma sociedade que está sofrendo muito.
Nunca esquecer disso.

Leio as notícias dos artistas reclamando dos políticos, da falta de apoio à cultura, da necessidade de deixar Minas Gerais e ir para São Paulo ou Rio.
Aqui em Belo Horizonte os artistas plásticos continuam vivos. São muitos...

Continuam trabalhando em silêncio porque gostam deste silêncio. Não têm marqueteiros nem compradores, não pertencem a grupos. Reúnem-se nalgum lugar para trocar ideias. Encontrei esse lugar no bairro de Santa Efigênia, BH. Chama-se “Asa de papel”. Ali um coletivo de artistas, intelectuais e profissionais liberais promove encontros, palestras, bate-papos com outros artistas. Trocam-se ideias, trocam-se quadros, cerâmicas, esculturas, livros.

Durante o encerramento da minha exposição, saí muito realizada. Meus quadros valeram trocas fabulosas. Agora posso ter em casa um quadro de Jayme Reis, uma escultura de Jorge dos Anjos, uma cerâmica de Erli Fantini. Troquei o que tinha na hora para trocar, até por alguns vídeos de Guignard feitos por Izabel Lacerda.
Sempre fui a favor dos escambos entre artistas. Estamos revivendo os antigos incas que iam para as praças aos domingos levando o produto da semana para ser trocado por outros produtos. O dinheiro não corria e nesta época de crise, os incas estão nos ensinando.

A resistência francesa teve na época da guerra seu ponto de encontro no Café de Flore em Paris, onde se reuniam os intelectuais Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Paul Claudel entre outros. A “Asa de Papel” está reunindo a resistência de Minas Gerais, a possibilidade de se criar sem necessidade de se aliar às grandes empresas.

Micro empresa é incentivo ao pequeno que algum dia será exemplo para a grande comunidade do século XXI.

Não é preciso abandonar as montanhas em busca de apoio e incentivo. Apoio e incentivo temos aqui, na iniciativa desses jovens construtores de uma nova versão da vida e da arte.

*Fotos da internet

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