segunda-feira, 30 de outubro de 2017


PINTURA MODERNA I

A França desde o século XIX tornou-se o principal centro das artes. Seria justo portanto lembrar que a maioria dos movimentos artísticos teve início em Paris e ali se desenvolveu.

         Contra a arte decadente e imitativa da academia, começaram a germinar em França as primeiras idéias revolucionárias. Daí surgiu o movimento moderno de renovação. A arte passou, novamente, a ser vivida pelos artistas como fonte de criação pura, e não imitação da natureza. Como pesquisa, e não submissão. Como experiência pessoal, e não cópia servil. Não falo aqui, especialmente, da arte abstrata, mas da abstração na obra de arte, qualidade essencial, indispensável, para haver criação autêntica.

         O artista pode partir do modelo, mas depois transforma linhas, muda cores e cai na abstração. O que a arte moderna fez foi, justamente, recapitular estas verdades, esquecidas pelo academismo. A revolução moderna foi um despertar do sono e do espírito de acomodação, dominante até o princípio do século XIX, para redescobrir valores e concepções eternas da verdadeira arte.

         Como nos diz Flávio de Aquino, "inventar foi o grande feito do nosso século, em todos os terrenos do conhecimento humano."  Inventar, também, foi a maior realidade da arte contemporânea, acompanhando o progresso científico do século XX.

         Com a inquietação dos artistas modernos, ávidos de liberdade, mundos desconhecidos foram revelados e a arte passou a ser a expressão de sentimentos puros, transfigurados pela personalidade dos autores.

         Segundo Pe. Collet, "a arte é a impressão digital duma civilização. Transmite, de certo modo, aos séculos seguintes, o testemunho vivo do melhor e do pior da época, e antecipa também o futuro, pois o artista, mesmo inconscientemente, recebeu o dom da profecia."

         Não são as telas de Chagall, cheias de um surrealismo lírico, como que uma visão antecipada dos acontecimentos mais recentes, que movimentaram o mundo, como sejam a conquista dos espaços interplanetários? (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)

Fotos da internet

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segunda-feira, 23 de outubro de 2017


EMOÇÃO E TÉCNICA III

O desenvolvimento da arte é feito através do trabalho, não de palavras.

Seu destino é dirigido por força desconhecida e impossível de ser dominada. Obedecendo unicamente à lei dessa necessidade interior, o artista procurará aprofundar esta verdade nova que surge. Um trabalho contínuo e ininterrupto há de gerar sempre uma ideia também logicamente contínua, sem grandes saltos. 

Uma fase nasce de outra como uma cascata, ligando-se à fase inicial por mudanças transitórias que determinam o início de uma transformação. Às vezes, é a necessidade de um material novo, ou da ausência de cor. É a necessidade de papel branco e da linha apenas como veículo de expressão.

         Um dia a cor voltará a ser explorada e sentida, e neste dia o desenho já não será mais necessário. As fases de um artista são espontâneas, não vêm de encomenda. Independem de leis externas e nunca poderão ser medidas, calculadas. Sua duração é a própria duração de um clima interior. 

A paisagem do artista é uma paisagem imaginária, sem relação com a paisagem real vista por todos. A mesma paisagem poderá inspirar tanto uma cidade, quanto uma esquadra no mar, dependendo da ocasião em que foi vista. Uma forma, uma linha, servirão apenas de pretexto para se achar aquela forma e aquela linha que sempre se desejou obter.

         Um mesmo grupo de nuvens poderá sugerir anjos, animais, demônios, ou simplesmente formas abstratas, dependendo da fase que o artista atravessa no momento. Naturalmente, quando esgotada uma fase, nascerá outra por uma natural e espontânea necessidade de renovação.

         O caminho da arte é longo, tem suas surpresas, seus imprevistos, revelando a cada passo a alvorada de uma nova ideia. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)

*Fotos de arquivo

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segunda-feira, 16 de outubro de 2017


INFLUÊNCIAS ORIENTAIS NAS IGREJAS FRANCISCANAS DO BRASIL

 Marília chegou da Bahia onde participou de um Congresso de historiadores da arte do Comitê Brasileiro de História da Arte. 

O historiador pesquisa, descobre coisas que foram vividas pelos homens de antigamente, fatos ainda não mencionados na história convencional.

Ela me diz: “Fizemos uma visita ao convento dos franciscanos em Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. Você iria gostar de ver esse mosteiro, que tem uma história bonita de intercâmbio entre o Brasil e a Índia, e hoje está abandonado”

A Bahia era a porta de entrada dos antigos navegantes portugueses. Aqui chegavam as caravelas trazendo especiarias da China e da Índia, em troca de produtos brasileiros.
A Bahia foi a primeira região brasileira a inaugurar a síntese Oriente/Ocidente. Eu já pesquisei esse assunto um dia, quando participei em 1983 de um Congresso em Goa.

O Brasil na Carreira da Índia, do historiador Luiz Roberto Lapa, foi o livro que me permitiu conhecer essa história esquecida de intercâmbio comercial entre o Brasil e a Índia, fruto das relações inter-continentais entre os países tropicais.

Agora, os novos historiadores, movidos pelo interesse em descobrir, documentar e preservar o presente, estão dentro desse mosteiro abandonado, repensando a importância de conhecer essa história e preservar esse patrimônio arquitetônico.

Marilia nos diz: “Nessa visita, tive a oportunidade de sentir o impacto e a beleza de uma Igreja franciscana, situada em Paraguaçu, na beira de um grande rio, apresentando uma arquitetura e uma decoração de forte influência oriental. Me lembrou os templos indianos, construídos em formas piramidais, que se situam próximo aos rios.

Esse sentimento inicial foi enriquecido pela leitura do texto de Paulo Ormindo de Azevedo sobre as relações inter-coloniais e as influências orientais nos conventos franciscanos do nordeste. Nesse texto o historiador discute as relações artísticas e arquitetônicas entre o Brasil e a Índia durante o período colonial. Enfatiza a importância dos ornamentos de pedra construídos nos cruzeiros situados nos átrios das Igrejas franciscanas e das chinesices e esculturas que também ornamentam o interior dessas igrejas. Mostra ainda que essa influência não se dá apenas na decoração dos templos, mas aparece também nos partidos arquitetônicos de forma piramidal que se encontram nos templos hinduístas da região de Kerala e nas igrejas indo-portuguesas de Goa.

A história dessa Igreja como também a história de outras igrejas brasileiras, abandonadas e esquecidas ao longo do tempo, precisa ser relembrada, reescrita, restaurada e preservada pelos órgãos públicos ligados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”.(Depoimento dado pela historiadora Marília Andrés Ribeiro)

*Fotos de Marília Andrés Ribeiro e Almerinda da Silva Lopes

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terça-feira, 10 de outubro de 2017


EMOÇÃO E TÉCNICA II

O ensino das artes plásticas é individual, seguindo as possibilidades de cada artista em particular. O aluno, quando realmente tem talento, sempre acha os seus meios de expressão, e, às vezes, surpreende o mestre com suas descobertas.

         Apenas orientado no momento preciso, ele poderá progredir de um modo mais autêntico do que recebendo, cegamente, as ordens exteriores.

         A vivência artística se enriquece muito mais com a própria experiência e as próprias descobertas, do que com a preocupação exagerada de consultar os tratados de técnica e de matemática, à procura da maneira exata e correta de se fazer pintura.

         A pintura é fruto de trabalho, de sofrimento e de abnegação. Neste clima de pesquisa, a emoção não surge desordenada e inconsciente, como na criança.

         Ela é corrigida e aperfeiçoada pela técnica, e ordenada pela experiência do artista, no sentido de um progresso sereno e ininterrupto.

         A experiência, naturalmente, controla a emoção e o artista já amadurecido conseguirá a fusão da disciplina com a liberdade, que é o clima essencial para a criação ao mesmo tempo espontânea e consciente.
         Ele deve saber ser fiel a si próprio, respondendo ao seu impulso interior com a máxima sinceridade, sem deixar que nisto intervenha nenhum interesse externo.
         Suas emoções não podem ser antecipadamente programadas num itinerário. Delineia-se este com o tempo, olhando para trás, depois de trilhado o caminho. Nunca premeditado intelectualmente. A evolução normal de um artista não significa uma ruptura com o passado, mas sua continuidade. Às vezes, mais tarde, uma das fases anteriores é revivida, para se enriquecer de soluções novas. Fiel ao impulso nascido espontaneamente, dentro de sua alma, o artista se volta com entusiasmo para o trabalho, renovando técnicas, renovando formas, porém fazendo viver dentro delas o seu espírito, o seu modo pessoal de sentir as coisas. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)

Atualmente, 50 anos depois da publicação deste texto, estou fazendo uma releitura da minha fase construtivista. Meus desenhos de via sacra da década de 50, com a utilização do computador, se transformaram em esculturas.

*Fotos de arquivo

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terça-feira, 3 de outubro de 2017


EMOÇÃO E TÉCNICA

A técnica deve ser posta no seu devido lugar, como uma subordinada da emoção criadora. Ela é importante, na medida em que orienta o artista no sentido de um aperfeiçoamento cada vez maior de seus meios de expressão. Auxilia-o a ser mais preciso e exato na realização de sua obra, orientando-o com os conhecimentos recebidos através de experiências alheias. É como que a gramática da pintura. A gramática corrige e aperfeiçoa a frase que foi concebida de uma ideia. As teorias também, em se tratando de artes plásticas, têm o mesmo papel. Vêm corrigir a ideia criadora do artista, às vezes imprecisa e confusa, dando-lhe uma forma clara e harmoniosa.

         Braque dizia: "Eu amo a regra que corrige a emoção".

         Mas não se dispensa a emoção em favor da regra. Não se ensina alguém a ser artista ditando-lhe processos teóricos, assim como não se ensina alguém a ser poeta, ditando-lhe regras gramaticais.

         É preciso ser visionário e disciplinado ao mesmo tempo, buscar a fonte da arte no espiritual  e depois trazê-la à realidade, com o auxílio dos conhecimentos recebidos.

         Embora as teorias tenham o seu papel no desenvolvimento do artista, pode-se, no entanto, ser bom pintor sem essa preocupação, pode-se ser apenas um artista intuitivo e ingênuo, progredindo à custa da própria experiência. Pode-se criar, como cantam os pássaros, sem regras e preceitos vindos de fora, apenas levado pela alegria de fazer surgir no mundo novas formas. Depende da cultura, das tendências e do meio em que o artista vive. Se ele for realmente artista, sua intuição o levará a um progresso espontâneo, baseado na experiência própria, sem o conhecimento das experiências alheias. Existindo a emoção criadora, existe arte. O que se não pode é pré-fabricar um artista. É ditar leis e teorias, esperando que destas leis nasça uma obra de arte. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)

*Fotos da internet

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