terça-feira, 16 de janeiro de 2018

STANISLAVSKI E BOAL

Konstantin Stanislavski treinava o ator por meio do autoconhecimento. Para representar o personagem, ele teria que se conhecer, analisar suas reações, investigar suas ansiedades, seus reflexos, sentir os impulsos internos e a reação exterior a estes movimentos. Observar-se, situar-se, perguntar a si próprio: “quais das minhas ideias, desejos, esforços, qualidades, deficiências e dotes inatos, pessoais e humanos, podem forçar-me, como homem e como ator, a adotar em relação às pessoas e aos acontecimentos uma atitude semelhante à do personagem que estou  interpretando?”

 Tais indagações, feitas para o ator se afinar com o personagem, constituíam também um caminho para a compreensão dos altos e baixos de sua personalidade e de seu relacionamento com outras pessoas.

Stanislavski fundamentava suas idéias na busca da realidade interior: “A ação cênica é o movimento da alma para o corpo, do centro para a periferia, do interno para o externo, da coisa que o ator sente para a forma física.”

“Só é cênica a criatividade que se fundamenta na ação interior.” 

Toda a sua obra está baseada nesse movimento interno que se exterioriza. O corpo é o instrumento que irradia os impulsos da alma: o semblante, o olhar, a mímica, o gesto, as mãos, os pés, a entonação.

O ator tem que compreender esse relacionamento entre corpo e alma, impulso e movimento, para saber interpretar bem seu papel. Precisa estar consciente de si próprio, atento a todos os seus movimentos internos e às suas reações diante dos fatos.

Augusto Boal, autor e diretor teatral brasileiro, criou o Teatro do Opri-mido, difundido em vários países do mundo. O Teatro do Oprimido surgiu da experiência de interação com plateias populares e, no dizer do próprio autor, “pretende libertar o artista que existe dentro de cada um de nós”.

Boal nos mostra, no seu livro Hamlet e o Filho do Padeiro:   Memórias Imaginadas , como a experiência no teatro pode tocar níveis mais profundos da personalidade do ator: o ator pode ser, hoje, Einstein, Chaplin, Gandhi e, amanhã, lixeiro, coveiro, pária analfabeto. Eu quis dizer – creio ter dito! – que o ser humano é capaz de mergulhar nas suas profundezas e emergir com personagens insuspeitados, potencialidades escondidas, submersas na sua recôndita pessoa. Ser ator significa mergulhar esse mergulho, despertar personagens que borbulham na panela de pressão do nosso inconsciente.

Na Europa, Augusto Boal desenvolveu trabalhos interessantes, como o ateliê iniciado em Paris, em 1982, no qual usava técnicas introspectivas, “um processo terapêutico, mas sem ser terapia”; nenhum dos participantes tinha mais autoridade do que os outros e  todos partiam de um relato individual, uma história particular que era pluralizada no grupo.

Boal teve oportunidade de estudar, nos EUA, o método Stanislavski de interpretação. Dentro dessa linha do fazer artístico, direcionado à busca de si mesmo e da reflexão, o ator estaria desenvolvendo todo um processo de transformação pessoal, que certamente poderia se refletir no processo de transformação de seu meio social. (Trecho do meu livro "Os Caminhos da Arte", Editora C/Arte, 2015)

*Fotos da internet

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